domingo, 26 de julho de 2015

Cecil B. DeMented (EUA, 2000)

Filme: Cecil B. DeMented / Cecil Bem Demente
Diretor: John Waters
Ano: 2000
País: EUA
Duração: 87 minutos
Elenco:  Melanie Griffith, Stephen Dorff, Alicia Witt

Honey Witlock (Melanie Griffith), além de uma pessoa um tanto quanto desagradável, é uma estrela de Hollywood que está indo à um evento em um cinema de Baltimore para a estreia de seu novo filme. Porém, logo vemos que os funcionários do cinema estão tramando algo e colocam seu plano em prática se rebelando armados e sequestrando a atriz.

A organização dos funcionários na verdade é uma equipe de cinema underground liderada por Cecil B. Demented (Stephen Dorff), um cineasta que repudia o grande cinema comercial de Hollywood. Cada um de seus colaboradores cinéfilos possui uma tatuagem e características do cinema de diretores, como Otto Preminger, Andy Warhol, Herschell Gordon Lewis, Sam Peckinpah, Spike Lee, David Lynch, Willian Castle, Kenneth Anger, Pedro Almodóvar, Rainer Werber Fassbinder e Sam Fuller.



Eles levam a atriz ao local onde vivem, um cinema abandonado, e a obrigam a atuar para o seu filme como uma terrorista contra a indústria do cinema, a qual ela própria faz parte. A primeira cena ocorre em um cinema que exibe um festival de filmes do Pasolini, onde os personagens reclamam da falta de público, pois saiu uma continuação dos Flintstones e desejam se rebelar contra este sistema cinematográfico. Após esta rápida cena, eles encerram as filmagens em ambiente cenográfico e, de agora em diante, filmarão o restante do filme com pessoas e situações reais.


O grupo armado passa a invadir cinemas e eventos como forma de ir contra a indústria milionária do cinema convencional. Em uma de suas intervenções, com Honey cada vez mais engajada com a ideologia do grupo, eles invadem uma convenção onde estão produtores de filmes que são questionados sobre continuações de filmes de sucesso financeiro, filmes baseado em video games e remakes de filmes estrangeiros, o qual o produtor responde alegando que os americanos não gostam de ler legendas. 

Agora fugindo da polícia e de um grupo de senhoras que defendem os inofensivos filmes família, eles entram em um cinema de artes marciais e os fãs de ação são convocados a ajudar a fuga de Cecil e sua turma. 



Em seguida eles invadem o set de filmagem da milionária continuação de Forrest Gump, rendendo os funcionários antes de um novo confronto, deixando mais mortos. Em nova fuga eles entram em um cinema pornô onde está passando um filme protagonizado por Cherish, uma das integrantes da equipe e clamam por ajuda dos fãs do pornô.

Para finalizar o filme, eles agora invadem um Drive-In e farão tudo para concluir o filme, mesmo que isto custe suas vidas em confronto com a polícia. Por fim, Cecil consegue muitos fãs, será que isso significa que ele próprio não será uma outra forma de cinema comercial?


Cecil B. Demented, de 2000, marca John Waters retornando e homenageando o cinema marginal, transgressor e anticomercial de onde ele surgiu. Mesmo que o filme não seja tão escatológico ou trash quanto a sua famosa trilogia (Pink Flamingos, Female Trouble e Desperate Living) e tenha um orçamento bem considerável (10 milhões), Cecil B. Demented mostra a fúria do cinema independente de guerrilha (aqui retratado realmente como um grupo de guerrilheiros militantes) e é um verdadeiro manifesto contra a indústria do cinema mainstream, que visa principalmente o lucro, fazendo filmes família, conservadores, moralistas, sem conteúdo, explorando franquias de sucesso à exaustão, insistindo em fazer remakes em detrimento de um cinema mais independente, autoral, contestador, inovador e realista. 

A crítica do filme também pode se aplicar ao próprio Waters, que também se rendeu ao cinema comercial quando fez filmes mais convencionais e lucrativos como Cry-Baby (1990), Mamãe é de Morte (Serial Mom, 1994) e Hairspray (1988), mostrando que como em Cecil B. Demented, ninguém está livre de ser comercializado pela indústria. 


O personagem de Cecil B. Demented pode muito bem representar um retrato autobiográfico do próprio John Waters em seu início anárquico, que fez diversos filmes com a mesma equipe, filmando sem autorização em lugares públicos, sem qualquer orçamento e preocupações técnicas e sempre disposto a subverter tabus e normas da sociedade. Os nomes dos diretores mencionados no filme são algumas influências para o seu cinema.

O nome do filme foi uma alusão ao cineasta Cecil B. DeMille, que ao contrário do personagem do filme, era conservador e ativista republicano. A história do filme foi levemente baseada em Patty Hearst, uma atriz e herdeira de um império jornalístico que foi sequestrada por membros do Exército Simbionês de Libertação (grupo com ideais marxistas e antirracistas) e que acabou se aliando à eles e ajudando-os em um assalto à um banco em 1974. O mais curiosos é que ela mesma tem uma participação no filme e em alguns outros de John Waters.

A história metalinguística com a filmagem de um filme dentro do próprio filme lembra o já comentado Terror Firmer, que também tem um caráter autobiográfico retratando Lloyd Kaufman e sua produtora Troma durante a realização de um filme, que acredito que também tenham sido muito influenciados por John Waters. 
Na trilha sonora participa a banda de grind/noisecore/experimental The Locust dando um peso e insanidade às cenas.

Um comentário: