quarta-feira, 12 de julho de 2017

The Void (Canadá, 2016)

Filme: The Void
Diretor: Jeremy Gillespie, Steven Kostanski
Ano: 2016
País: Canadá
Duração: 90 minutos
Elenco: Aaron Poole, Kenneth Welsh, Daniel Fathers 

Para quem acompanha o blog, o nome dos diretores Jeremy Gillespie e Steven Kostanski não devem soar estranhos, pois eles são integrantes do coletivo Astron-6 e participaram ativamente de filmes como Father's Day e Manborg e mais discretamente de The Editor. Além disso, participaram de grandes produções, como Esquadrão Suicida, A Colina Escarlate, a série Hannibal e estão na produção do remake de It: A Coisa.

The Void foi uma produção paralela à Astron-6, sendo financiada coletivamente - arrecadando cerca de $ 82 mil, cujo custo total foi de $ 160 mil - com uma ideia mais ambiciosa do que os trashs que fizeram anteriormente, referenciando Lovecraft e homenageando o body horror dos anos 80 em uma história de mistério tensa e sombria.

Tudo começa quando dois sujeitos, que parecem pai e filho, perseguem um casal de jovens. Enquanto o homem consegue fugir, a moça é atingida por um tiro e queimada viva. O fugitivo é encontrado rastejando pela estrada pelo policial Daniel e levado ao hospital, por estar coberto de sangue.

No hospital - que se encontra isolado e cercado pela floresta - que está parcialmente desativado e quase deserto,  Daniel encontra sua esposa (ou ex), a enfermeira Allison, a qual possuem um trauma antigo relacionado com a perda de seu bebê. Lá, coisas estranhas começam a ocorrer. Uma das enfermeiras mata um paciente uma tesoura e corta a própria pele do rosto negando sua real aparência. Ela tenta atacar Daniel, que se vê obrigado a atirar nela. 


As coisas ainda ficarão mais estranhas quando o corpo da enfermeira ganha vida e torna-se uma criatura disforme com tentáculos que começa a atacar os presentes. Não bastasse isso, o pai e o filho invadem o hospital atrás do seu foragido. Além da tensão crescente dentro do hospital, eles se vêem presos no local, pois o mesmo se encontra cercado por pessoas vestindo um manto branco com um triângulo estampado no rosto, parecendo ser integrantes de uma seita. 

Soma-se aos mortos o médico, que é atacado pelo fugitivo e um sargento que é levado pelo monstro. Enquanto as enfermeiras tentam salvar Maggie, que está grávida e prestes a ter o bebê, ainda precisam se entender com os dois estranhos armados e lidar com as criaturas. Mas Richard, o médico morto também está de volta à vida, e o fugitivo, após uma tortura, fala que ele está envolvido com o culto dos caras de triângulo, onde faziam assassinatos e sacrifícios, buscando uma forma de vencer a linha entre a vida e a morte, após o trauma de perder a própria filha. 

Os homens restantes partem para o necrotério do hospital e entram em uma espécie de dimensão paralela, indicada pelo símbolo do triângulo, onde encontram-se com os frutos dos experimentos macabros do médico: corpos mutilados e deformados que voltaram a viver, lembrando as criaturas dos jogos Silent Hill. Neste ambiente, Richard, que já se encontra sem a pele do corpo, ignorando a dor e vendo a forma humana como transitória, manipula as percepções de realidade dos presentes, confundindo-os entre a realidade, loucura e pesadelos, baseados em seus traumas pessoais, medos e culpas, tanto que dá a impressão que Daniel é levado à matar Allison, após vê-la como um monstruoso emaranhado de tentáculos. 


Ao fim, Maggie, que estava grávida do médico, dá a luz à uma grotesca e enorme criatura e abre-se um portal para uma outra dimensão, onde aparecem Daniel e Allison em um ambiente deserto e desolado indo de encontro com o nome do filme e em uma clara referência ao final de The Beyond, de Lucio Fulci.



Quem gosta do citado The Beyond deve ter se empolgado com este final e não deve ter estranhado a possível falta de explicação aos mistérios apresentados. Aliás, vi várias críticas apontando o filme como confuso, ou o roteiro raso, ou simplesmente ruim por esta falta de explicações ou por não terem entendido o filme. Acredito que estas pontas soltas foram propositais e contribuem para o clima de mistério e nos colocam as dúvidas que os personagens estão vivenciando sobre o que é a realidade, pesadelo ou loucura, que se fossem melhor explicadas talvez não funcionassem tão bem, pois, mencionando Lovecraft, o horror pode ser mais impactante quanto vai além da compreensão humana. Ainda mencionando Lovecraft e seu horror cósmico, mostra a insignificância humana frente à seres e dimensões ancestrais.

Além de The Beyond, outro filme que parece ter sido de grande influência foi Hellraiser, de Clive Barker, onde vemos personagens se mutilando, dimensões paralelas, o vilão sem pele que lembra esteticamente imagens de Hellraiser.


O clima claustrofóbico e o body horror nos remetem a outro grande filme dos anos 80: Enigma do Outro Mundo, de John Carpenter. Embora The Void tenha bons efeitos práticos, estes ainda não se comparam com produções como esta de Carpenter ou A Mosca, de Cronenberg, mas para um filme de baixo orçamento, o resultado foi excelente. Cronenberg também pode ser visto como uma influência por conta da sua filosofia envolvendo carne e mutações corporais. Outros grandes filmes oitentistas e lovecraftianos que vejo elementos em comum é Re-Animator, de Stuart Gordon, embora sem o humor presente neste filme, ou também From Beyond, do mesmo diretor.


O filme mostra a competência dos jovens diretores, que além dos trashs anteriores, podem se arriscar em filmes mais sérios e tensos, apesar ainda do baixíssimo orçamento, mas, para não fugir da sua veia trash sangrenta, os diretores ainda trazem uma boa dose de gore e uns litros de sangue.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Das Komabrutale Duel (Alemanha, 1999)

Filme: Das komabrutale Duell /  The Coma-Brutal Duel
Diretor: Heiko Fipper
Ano: 1999
País: Alemanha
Duração: 86 minutos
Elenco: Heiko Fipper, Mike Hoffman, Stefan Hoft

Chegou a hora de voltar com as postagens, após mais um interminável período de hiato, mas prometo que agora as postagens serão mais frequentes. 
Volto da pior forma possível com o filme Das Komabrutale Duell, ou The Coma-Brutal Duel, dirigido por Heiko Fipper em 1999, na verdade, se a informação do IMDb estiver correta, foi o trabalho da vida dele, sendo filmado entre 1984 e 1999 como uma coleção de curtas que formaram esta obra-prima do sangue laranja. 
Fipper é considerado um dos representantes do chamado ultragore alemão, juntamente com diretores como Olaf Ittenbach, Timo Rose e Andreas Schnaas. Estes filmes são feitos de forma amadora e sem orçamento por fãs de gore. A história, se é que podemos chamar assim, de The Coma-Brutal Duel é bastante rasa e parece que foi sendo pensada à medida que foram filmando, mesmo que isso tenha levado 15 anos. Tratam-se de sucessivas vinganças entre os membros de uma máfia/gangue contra um personagem e sua família e amigos que vai se arrastando por anos. Ou seja, basicamente o filme todo é baseado em pancadaria, tiros, tortura e mutilação com diversos instrumentos. 


O filme não deve ser levado à sério em nenhum momento, tanto que as brigas incluem centenas de socos, tiros, inclusive na cabeça, mutilações e os personagens seguem vivos e prontos para a briga.
São várias cenas absurdas, como um médico maluco que espanca suas vítimas até a morte, costura seus ferimentos, juntando os pedaços decepados e os reanima com eletrochoque, tornando-os como zumbis.

Em outra cena neste local, um dos personagens é atingido na cabeça e um dos amigos tem a brilhante ideia de tirar metade do seu cérebro para reavivar o amigo, já que ele claramente parece não usar muito o seu. Para isso, um outro amigo arranca-lhe a cabeça com a mão, a abre e retira meio cérebro para colocar no defunto, enquanto o corpo decepado fica perambulando pela sala. Após realizar a cirurgia nos dois cabeças ocas e colar tudo no seu lugar, com cola quente, todos ficam consertados e podem continuar na sua infinita vingança. 


Em outra cena, este mesmo trio, que perdeu muito sangue, faz uma transfusão de sangue caseira usando o sangue de um balde. E por aí vai o filme com alguns desses absurdos para divertir um pouco enquanto a pancadaria come solta. Ainda temos cenas de extração de fetos (bonecas) que são esmagados; cortes são fechados com grampeador; um estancamento de sangue é contido com um ferro quente, e tudo isso banhado de muito, mas muito sangue - meio alaranjado - e efeitos gore caseiros, pra compensar a falta de sentido da história. E, apesar do excesso de sangue e violência, não considero muito chocante, talvez devido ao baixo orçamento e dos efeitos não muito convincentes.


Apesar de tudo, o filme não é muito divertido, talvez por se levar meio à sério, mesmo com tanta bizarrice que acontece. E como são basicamente 90 minutos de sangreira, acaba ficando cansativo e não é um filme marcante. Tanto que quando acabei de ver já nem lembrava como havia sido o final. Em uma das críticas do IMDB, vi uma definição que faz sentido para o filme, classificando-o como "ultra-bore". É um filme que deve ser visto apenas por entusiastas de filmes trashs baratíssimos e cheios de gore.


Em comparação com outros filmes do ultragore alemão, como Black Past, The Burning Moon e Premutos de Olaf Ittenbach, The Coma-Brutal Duel fica devendo, mas se for comparado com a série de filmes Violent Shit, de Andreas Schnaas, o filme até parece bem mais assistível.

O que acho interessante no filme e sempre destaco, é que foi feito por um pequeno grupo de amigos, ficando a cargo do diretor também atuar e fazer os efeitos especiais. E mesmo que ninguém goste (sempre tem algum maluco para gostar), se a produção do filme trouxe alguma diversão para os envolvidos, acho que já é válida.
Heiko Fipper também dirigiu e atuou no filme Ostermontag, de 1991.