domingo, 26 de maio de 2013

Tetsuo - The Iron Man (Japão, 1989)

Filme: Tetsuo - The Iron Man
Diretor: Shin'ya Tsukamoto
Ano: 1989
País: Japão
Duração: 67 minutos
Elenco: Tomorowo Taguchi, Kei Fujiwara, Nobu Kanaoka, Shin'ya Tsukamoto


Já falei e continuarei a comentar sobre os filmes gore japoneses em que é comum o corpo humano se fundir com máquinas, transformarmando-se em armas. Mas antes, não posso deixar de falar em Tetsuo - The Iron Man, filme de 1989 que inspirou muitos destes atuais que tanto nos entretém através da violência exagerada, embora Tetsuo possua uma abordagem mais complexa e profunda.

Tetsuo há muito constava na minha lista de filmes a assistir. Com uma certa demora o assisti e após o término deste, fiquei me questionando sobre o que acabara de ver, apesar de ter gostado do mesmo. Realmente é difícil definir este média metragem que mais parece um videoclipe de 67 minutos com uma temática cyberpunk onde o homem se funde com a máquina, tornando-se literalmente um homem de ferro. Isto tudo é marcado por uma excelente fotografia totalmente em preto e branco, com algumas cenas tremidas de câmera de mão, cortes rápidos e frenéticos, misturando a realidade com alucinação, acompanhado de uma ótima e perturbadora trilha sonora, que torna esta, uma insana e perturbadora experiência cinematográfica.

O filme foi realizado com um baixíssimo orçamento, de forma até meio artesanal, mas muito criativa, utilizando até mesmo sequências em stop-motion interagindo com os personagens, resultando em efeitos muito interessantes. Foi filmado em 16mm e produzido por poucas pessoas, já que o diretor fez praticamente tudo, pois além de escrever o roteiro e dirigir o filme, ele atua como o Fetichista, e ainda fez a filmagem, edição, produção e direção de arte. Além dele, a equipe contou apenas com mais duas pessoas, além dos outros 5 atores. Um deles, inclusive, é também o responsável pela trilha sonora.

Muitos comparam o filme a Eraserhead de David Lynch, porém este é bem mais lento que Tetsuo. As mutações e junções do homem com a máquina são frequentemente relacionadas ao trabalho de David Cronenberg, como por exemplo em Videodrome. Além destes, um filme que me veio a mente foi Pi, de Darren Aronofsky, com um tema semelhante e que também utiliza cortes rápidos, fotografia em preto e branco e uma perturbadora trilha sonora.
Falei demais, aos que não viram ainda o filme, recomendo que o façam antes de continuar lendo.



O Fetichista é um sujeito obcecado por metal, cujo pequeno quarto é repleto de fios, peças e componentes, e posteres de atletas. Em meio a este cenário, ele tenta tornar-se sobre-humano inserindo um pino de metal em sua própria perna, que é rejeitado pelo seu corpo. Desesperado ele sai correndo pelas ruas e é atropelado pelo Assalariado e sua mulher e, como é apresentado mais tarde, estes o descartam como lixo, sem ressentimentos. Pelo contrário, a imagem do homem esfolado até os excita!


O Assalariado aparece depois contracenando e interagindo com as máquinas da indústria em uma dança insana acompanhada de uma música industrial. Mas o corpo do assalariado começa, gradualmente, a transformar-se em metal. Primeiramente aparece uma ponta metálica em seu rosto. Em seguida, no metrô senta-se ao lado de uma mulher que vê um monte de sucata metálica e, ao tocá-la, parece ser possuída pelo metal, que é acoplado ao seu braço. De alguma forma, naquele monte de peças estava o fetichista, que agora controla a mulher e vai a transformando em metal. Ela passa a perseguir o assalariado, que após muito esforço consegue derrotá-la. Em casa ele tem o braço começando a transformar-se em algo mecânico. Também surgem propulsores em seus pés que o levam para um passeio pela cidade enquanto tem alucinações em que é sodomizado por sua mulher, que tem uma espécie de tentáculo peniano de metal. Ele vai sofrendo mutações, seu pênis torna-se uma assustadora broca até ser totalmente coberto por peças metálicas e emaranhados de fios. 


A partir deste momento o fetichista acorda e irá confrontar o assalariado. Após o indescritível duelo, repleto de imagens que não nos deixam piscar, eles juntam-se com o intuito de transformar o mundo em metal. É a máquina vencendo o confronto com o homem.


Acredito que a ideia do filme é mostrar o impacto da tecnologia no homem, que é cada vez mais dependente e controlado por ela e vai perdendo a sua humanidade, como representado através de sua transformação em máquina. A falta de relações humanas também é algo prejudicado pela tecnologia, justificada no filme pela quase ausência de diálogos. 
A substituição do humano pelo mecânico, como ilustrado na capa do filme através do personagem em uma engrenagem, como uma peça do desumano sistema industrial, que além de tudo, acirra a competição entre as pessoas. Sem deixar de considerar que o filme se passa no Japão, terra de alta tecnologia e mecanização do trabalho. 

Deixando de lado a minha análise pouco confiável, é um bom filme de ficção científica e vale muito a pena ser assistido, ainda mais por ser curto e nem um pouco monótono.

Leia também: A Cibercultura e o Cinema de Shinya Tsukamoto: um estudo a partir do díptico Tetsuo, trabalho de mestrado de Marta Alves abordando Tetsuo e outros filmes de Shinya Tsukamoto. Bastante interessante. 


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Terror Firmer (EUA, 1999)


Filme: Terror Firmer
Diretor: Lloyd Kaufman
Ano: 1999
País: EUA
Duração: 114 minutos
Elenco: Will Keenan, Alyce LaTourelle, Lloyd Kaufman 

Terror Firmer é um filme de 1999 que, além de distribuído pela Troma, foi produzido pela própria, sendo dirigido por Lloyd Kaufman, que juntamente com e Michael Herz foram os fundadores da produtora. 
De cara nos deparamos com uma assassina em série que arranca a perna de um homem e o espanca com esta; que faz um aborto manual, retirando um feto (que chora!) do ventre da mãe com as próprias mãos; e que mata um homem o soterrando sob montanhas de cereal, fazendo valer o trocadilho Cereal Killer. Acho que isso já é motivo o suficiente pra continuar assistindo, não acham?

No momento seguinte um homem atira em sua própria cabeça, espalhando carne moída por todo lado mas não morre. Uma cena tão absurda como esta só podia ser de um filme, que é exatamente o caso. Se trata de uma cena filmada por uma incomum equipe, tendo como diretor Larry Benjamin, interpretado por Lloyd Kaufman, só que no filme é cego e não pode ver as confusões, bagunças e orgias que a sua própria equipe apronta enquanto produz a sua arte.  Mesmo assim é um lugar razoavelmente pacífico, salvo algumas pequenas brigas, onde a segurança das pessoas é respeitada não fossem os assassinatos que passam a ocorrer.


Durante a produção do filme, a assassina vai eliminando integrantes da equipe. Isso acontece com Toddster, o sonoplasta que, pelas mãos da sádica maníaca, literalmente enche o rabo de cocaína por meio de um funil. Ela ainda o desfigura enquanto se masturba, arrancando o cérebro deste indivíduo, que depois é transformado em um bizarro chafariz. Outra vítima é o financiador do filme que é morto em uma memorável e absurda cena em que é triturado pela escada rolante. Um verdadeiro banho de sangue, gore e diversão para toda a família! Falando em família, vale ressaltar que enquanto a mulher que encontrou os restos do gorducho na escada dá uma entrevista ao repórter Lemmy (Motörhead), seu filho brinca com a cabeça do defunto. Nada mais natural.
De forma misteriosa, pessoas do set vão aparecendo mortas, obra de alguém que tenta a todo custo e com violência real, impedir Larry e sua equipe de produzir sua divertida e fictícia arte violenta. O que faz com que a polícia passe a investigar e Larry é o principal suspeito, mesmo sendo cego.  

Durante os assassinatos, se passa um triangulo amoroso entre Jennifer, Casey e Jerry. Jennifer é a assistente de produção; Jerry é o cara dos efeitos especiais e um entusiasta em filmes trash que brinca e se diverte durante esta produção. Já Casey (Will Keenan, o Tromeo de Tromeo & Juliet) é o sonoplasta otário metido a fortinho, com educação religiosa pelo pai (que é interpretado por Ron Jeremy, o ator pornô), e daqueles adoradores de Spielberg que não apreciam o cinema independente de baixo orçamento. 

O filme que é produzido pela equipe é do Vingador Tóxico e não há muito sentido ou ligação entre as cenas, o que não é necessariamente um ponto negativo. Vemos cenas do Toxie mandando ver em uma atriz com muito potencial, entre outras. Além do mítico Vingador Tóxico, outro personagem da Troma que aparece é o Sargento Kabukiman, como integrante da equipe de produção.

Apesar de toda bagunça que é o set de filmagem deste filme dentro de Terror Firmer, algumas coisas devem ser semelhantes ao que produtoras independentes como a Troma sofrem realmente, como o ataque por parte da crítica que apenas aponta falhas nos filmes sem ver nenhuma qualidade, ou pelos conteúdos tidos como tabu ou de preconceito que vão contra os "valores familiares" da sociedade, que são apresentados no filme como aborto e a homossexualidade, masculina e feminina. Inclusive há uma cena em que alguns figurões tentam convencer Larry a retirar a cena de aborto, mas o diretor se nega. 



O filme é bastante divertido e mostra tudo que a Troma tem de melhor a oferecer, com muitas piadas, tirando sarro de todo mundo (inclusive do Spielberg), cenas de nudez e sexo, brincadeiras metalinguísticas e sangue, que não é como nos filmes japoneses, mas há bastante nas várias cenas criativas de mortes. Não faltam cenas absurdas como o gorducho com o diminuto instrumento correndo pelado pelas ruas de Nova York, e a real identidade da vilã, entre várias outras e sem deixar de esquecer a cômica e sempre carismática atuação de Lloyd Kaufman, que fazem desta uma obra a ser assistida pelos apreciadores do trash.  Certamente um dos melhores filmes da Troma.



Outro ponto positivo é a boa trilha sonora, com bandas de punk rock não excelentes, mas até legais e o filme inicia bem com uma versão de Amazing Grace do Entembed. E ainda conta com a participação da banda Lunachiks. Só acho que a trilha poderia ser mais hardcore para se adequar mais com a violência do filme.

Se os dados do IMDb estão corretos, o orçamento do filme é estimado em $ 500.000 mas arrecadou apenas $ 1.434 sendo exibido em apenas dois cinemas. A Troma fez o documentário The Making Of Terror Firmer (2001) mostrando como foi a produção deste filme (que tem um filme dentro dele).

Terror Firmer é uma homenagem a gente como Lloyd Kaufman e a Troma que, mesmo com poucos recursos fazem filmes criativos, produzidos por pessoas que, principalmente, se divertem com o que fazem e se dedicam a isto sem preocuparem-se em fazer algo apenas para ganhar dinheiro. E como dito no fim do filme, este é o tipo de cinema criativamente livre, que não é dominado por organizações, sociedade, religião e autoridades, expondo com coragem temas controversos para estes. Além disso é um incentivo às pessoas criarem seus próprios filmes, pois com criatividade e boas ideias, podem ser feitos filmes interessantes e divertidos, mesmo que baratos.

Então... Let's make some art!!

Nota IMDb: 5,8
Minha Nota: 8,0

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Redneck Zombies (EUA, 1989)


Filme: Redneck Zombies
Diretor: Pericles Lewnes
Ano: 1989
País: EUA
Duração: 84 minutos
Elenco: Steve Sooy, Anthony M. Carr, Ken Davis 













Seguindo com outra produção distribuída pela Troma, Redneck Zombies inicia com um esteriotipado caipira reclamando do nome do filme e do preconceito com seus conterrâneos. Mas não é um simples caipira e sim um zumbi caipira lilás, que enquanto fala tem sangue esguichado do pescoço. 


Após esta apresentação, Lloyd Kauffman explica alguns detalhes sobre o filme, que foi todo produzido diretamente em vídeo e inspirado no Vingador Tóxico e que seu diretor, Pericles Lewnes, participou de outras produções da Troma como Troma's War e Vingador Tóxico 2 e 3.

O filme começa com legendas citando que um barril de líquido tóxico altamente perigoso desapareceu e que, para alguns cientistas, o seu conteúdo poderia significar o fim do mundo, e a seguir vemos como isso aconteceu. Com todo cuidado do mundo o barril é carregado solto em um jipe guiado por um motorista chapado que perde o controle do veículo fazendo o barril sair rolando e caindo nas mãos dos caipiras locais. Estes que são representados de forma estereotipada  como sendo pessoas idiotas, sujas e de dentes podres e que dão razão ao protesto daquele zumbi caipira antes do início do filme. Entre estes simples cidadães está um gorducho com uma atuação simplesmente cômica, digna de Os Trapalhões. Mas então, com o novo barril, eles decidem aproveitá-lo para fazer um novo alambique, já que o tal gordinho atrapalhado, "acidentalmente" furou todo o antigo a tiros.


Não muito distante está um grupo de pessoas da cidade acampando na floresta, contando histórias e se chapando. Neste momento os caipiras degustam sua nova produção de birita verde tóxica. A partir disso, começam a ter alucinações, visões psicodélicas e multicoloridas (com uns efeitos exagerados), iniciando um processo de mutação, criando bolhas em seu corpo e o fazendo derreter. O que pode ser uma referência ao filme Street Trash, de 1987, onde uma bebida chamada Viper fazia os mendigos derreterem, mas neste caso sem voltar à vida. Ou pode ser apenas uma semelhança acidental.


Após o derretimento dos caipiras pela misteriosa bebida, eles são agora zumbis e passam a atacar os indefesos turistas, os dilacerando com as próprias mãos com tripas por todos os lados. Tudo isto com aqueles efeitos baratos a lá Bad Taste, criativos e nojentos, que funcionam bem e que deixam o filme com aquele toque especial de trash que tanto gostamos. Aliás, se ainda não perceberam, este filme é MUITO TRASH. 



A bebida vai se espalhando pelas redondezas e é consumida inclusive por crianças. Vale aqui ressaltar uma cena épica em que a mãe dá a tóxica bebida na mamadeira de uma criança pequena, que parece usar como berço uma máquina de lavar. Deve ser prática comum por lá dar cachaça para bebês.

A epidemia zumbi vai se alastrando enquanto os turistas vão sendo exterminados. Estes que chegam até a fazer uma incomum e lisérgica autópsia zumbi, no qual o estudante de veterinária descobre que um determinado tipo de desodorante pode decompor os zumbis, mas esta arma nem mesmo é utilizada no restante do filme. 
Não vou contar o desfecho, mas o final eleva ainda mais o nível de trashismo, cheio de sangue, gosmas e nojeiras, ou seja, muita diversão. Ainda se tem uma ideia de continuação, que acho que nunca ocorreu.


Algumas curiosidade, segundo o IMDb: 
O filme foi gravado em 32 dias no decorrer de um ano. 
O diretor Pericles Lewnes acabou sofrendo uma concussão na cena em que o barril de lixo tóxico cai.

Taí um filme barato (estimado em cerca de 10.000 dinheiros) e criativo, com muito trash e diversão, digno das produções da Troma e que merece ser assistido. Além disso, tem uma divertida trilha sonora especialmente feita para o filme. E não deixem de comentar aí.
Este e muitos outros filmes podem ser encontrados no blog Scary Torrent.

Nota IMDb: 4,1
Minha Nota: 7,0 

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