domingo, 22 de novembro de 2015

American Hardcore (EUA, 2006)

Filme: American Hardcore
Diretor: Paul Rachman
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 100 minutos
Elenco: Greg Ginn, Ian MacKaye, Lucky Lehrer, Keith Morris
IMDb: 7,3



American Hardcore é um documentário baseado no livro "American Hardcore: A tribal history", escrito por Paul Rachman, que narra, citando inúmeras bandas, a criação, o desenvolvimento e o declínio deste estilo musical durante os anos de 1980 à 1986, em especial, nos Estados Unidos. O documentário não é algo que eu chamaria de trash, mas o hardcore também foi uma manifestação contra cultural importante, feito de forma independente e sem finalidade comercial. Além, é claro, de se tratar de um estilo musical que gosto tanto e por citar várias bandas que estão entre as minhas favoritas, por isso, acho que vale comentar sobre este filme, mesmo que seja uma desculpa pra falar da história do hardcore. 

Nos início dos anos 80, nos Estados Unidos, a música era dominada pela disco music, o rock vivia um momento não muito empolgante e o punk rock já não era algo tão revolucionário quanto no seu início. Era o início da era Reagan, onde, segundo a visão conservadora, as pessoas deveriam seguir um estilo de vida pré-determinado: estudar, trabalhar, constituir uma família, consumir e seguir as regras. Esta sociedade, que oprime o povo pela busca por sucesso, causou muitos insatisfeitos. Com isso, jovens começaram a demonstrar suas insatisfações e ódio às autoridades criando suas bandas e fazendo um som influenciado pelo punk rock, mas mais rápido e agressivo e menos comercial. Era o início do hardcore.


Assim como no punk, as bandas seguiam a filosofia DIY (faça você mesmo), gravando os discos de forma independente, fazendo as próprias artes para álbuns e cartazes e tocando em qualquer lugar. Ian Mackaye (Teen Idles, Minor Threat) conta que na época do Minor Threat fizeram manualmente a capa de 10.000 EPs, recortando o papel e colando.

Uma das primeiras bandas foi o Bad Brains, de Washington, formada por negros rastafáris que tocavam hardcore e reggae, mas em suas músicas hardcore, faziam um som extremamente rápido e com uma mensagem positiva, vindo a influenciar o Teen Idles, banda de Ian Mackaye, que em seguida formou o Minor Threat, sendo a precursora do movimento straight edge, que se caracterizava por um estilo de vida livre de drogas.   
Outras bandas de Washington que vieram no embalo do Bad Brains foram o S.O.A., Void, Scream e The Faith.

Outro berço do hardcore foi na Califórnia, de onde vieram o Middle Class e o Black Flag, que, assim como o Bad Brains, formam o trio que criou o hardcore. O Black Flag teve como vocalista Keith Morris, que saiu e formou o Circle Jerks, outra importante banda. Henry Rollins, que fora vocalista do S.O.A. em Washington, mudou-se para a Califórnia assumindo os vocais do Black Flag. Da Califórnia também vieram as bandas Fear e Germs, que, assim como o Black Flag e o Circle Jerks, são mencionadas no documentário The End Of Western Civilization, que narra o início do hardcore na Califórnia. 

O hardcore se espalhou rapidamente. O documentário mostra que em cada estado, jovens estavam formando as suas bandas.  Em Nevada nascia o 7 Seconds, em Oregon o Poison Idea, em Indianapolis o Zero Boys, em Winsconsin o Die Kreuzen, em Michigan o The Necros e Negative Approach, em Illinois o Articles of Faith.


Em Boston, capital de Massachusetts surgia uma cena straight edge, porém com um som ainda mais agressivo e bruto que o Minor Threat. Desta cena vieram o SSD, Gang Green, Negative FX, Jerry's Kids, DYS. Uma falha do documentário quanto à cena de Boston é não citar a excelente banda Siege, que foi de fundamental importância para a futura criação do grindcore, fastcore e power violence, embora não tenho o devido reconhecimento.
Os integrantes do Bad Brains mudaram-se para NY e lá gravaram o seu primeiro álbum, um dos mais marcantes da história do hardcore. Lá eles influenciaram o Beatie Boys, que no seu início tocava hardcore. De NY vieram Agnostic Front e Cro-Mags, que definiram o estilo durão do hardcore de lá.


Do Texas vieram Big Boys, The Dicks, Really Red, MDC e o D.R.I., esta que fazia um som bastante acelerado e que mais tarde acabou influenciando bandas que criaram o thrashcore, um dos subgêneros do hardcore que eram ainda mais rápidos. 
O filme também cita bandas canadenses, que surgiram nesta época influenciadas pelo hardcore americano, como o D.O.A.

Após a primeira metade da década o hardcore passou pelo seu declínio, com muitas bandas parando ou mudando seu estilo para algo mais comercial. O Black Flag estava fazendo músicas mais longas e menos rápidas, o SSD e DYS migraram para uma espécie de hard rock, o D.R.I. incorporou influências do thrash metal indo para o crossover. Uma falha ao meu ver quanto ao livro e o documentário, é que deveria ter sido considerado além de 1986, pois assim poderia incluir a cena youth crew que teve origem com o Youth of Today, além de bandas mais rápidas como Infest, muito influente no meio do hardcore rápido.


Infelizmente, pela grande quantidade de bandas, algumas muito importantes acabaram apenas sendo citadas rapidamente, como o Poison Idea, D.R.I., Negative Approach e Negative FX.
De qualquer forma, é um excelente documentário e totalmente recomendado àqueles que desejam conhecer mais sobre a criação do hardcore e seus principais representantes do período, que até hoje seguem influentes. O documentário traz trechos de shows e entrevistas com grandes nomes, como Henry Rollins (Black Flag), Ian Mackaye (Minor Threat), H.R. (Bad Brains), Keith Morris (Circle Jerks, OFF!) e vários outros.