domingo, 24 de janeiro de 2016

The Editor (Canadá, 2014)

Filme: The Editor
Diretor: Adam Brooks, Matthew Kennedy
Ano: 2014
País: Canadá
Duração: 95 minutos
Elenco: Paz de la Huerta, Adam Brooks, Matthew Kennedy, Udo Kier, Laurence R. Harvey, Samantha Hill

Rey Ciso (Adam Brooks) é um editor de filmes de horror, que usa próteses de madeira nos dedos, pois os decepou cortando rolos de filmes ensandecidamente após a sua esposa Josephine (Paz de la Huerta) ser recusada para um papel. Durante as filmagens do filme em que ele está trabalhando, ocorre o assassinato do protagonista e de uma atriz, que é encontrada enforcada pendurada no teto. O inspetor Peter Porfiry (Matthew Kennedy) passa a investigar o caso e desconfia de Rey, já que, assim como ele, o corpo da atriz é encontrado sem os dedos de uma mão. Quem encontra o corpo é justamente a esposa de Peter, Margarit (Sheila Campbell), que atua na produção e fica cega ao ver o cadáver.
Com a morte do ator principal, Cal Konitz (Conor Sweeney), que atua como o policial ajudante se anima para ficar com o papel, mas o diretor (Kevin Anderson) designa outro ator, Cesare, que, mesmo não falando inglês - para isso que serve a dublagem - é mais ou menos parecido com o protagonista e assim seguem com as filmagens juntando com as cenas já gravadas e Rey que se vire em editar tudo. 


Uma cena a ser editada é quando, no filme, os dois policiais chegam à uma academia de aeróbica e desconfiam de uma garota, alegando que é uma assassina disfarçada. Eles tentam provar isto arrancando sua "máscara", mas ela não usava máscara alguma e lhe é arrancada a pele do rosto - restando a sua caveira com olhos e boca mexendo - e constatam que se enganaram e colocam pele de volta como se nada tivesse acontecido.



Rey sente-se abatido, não consegue mais diferenciar o real da ficção, motivo pelo qual ele já havia sido internado em uma instituição para doentes mentais, e vai se confessar ao padre (Laurence R. Harvey). Em seguida, Cesare é morto, e a cena do assassinato aparece no rolo para Rey editar, deixando-o ainda mais em dúvida sobre a realidade. Cal, cada vez mais suspeito não esconde a euforia para ser o protagonista com a morte de Cesare, também sem os dedos e que foi atacado após se encontrar com ele. Mas o investigador ainda não liga os pontos e nem desconfia de Cal, mesmo vendo-o com um canivete suspeito. Pior para Rey que tem que ficar picotando o filme com a entrada e saída de atores.


O assassino misterioso agora aparece na casa do inspetor e leva sua esposa para um cômodo e fica com ela próximo à porta. Porfiry usa toda a sua genialidade para abrir a porta a machadadas e, eventualmente, rachar a cabeça da esposa. Para simular mais uma vítima do assassino, ele corta os dedos da própria esposa morta.
Rey é demitido e Bella (Samantha Hill), sua assistente é morta - após ter o olho perfurado por uma faca - e ele desconfia que o novo editor é o assassino, mas logo este também é executado, tendo as tripas extraídas e enroladas no rolo de filme, e os dedos cortados, naturalmente.


Enquanto Rey tem alucinações, Cal o ameaça com uma motosserra para colocá-lo novamente no filme. O inspetor, por sua vez, investiga alguma ligação de Rey com o ocultismo e suspeita que seja ele o responsável por retalhar Cal e sua esposa com uma motosserra, e acaba por encontrar uma coleção de dedos decepados escondido na casa de Rey.
Rey, que está perdido entre o mundo real e da ficção, também nos deixa em dúvida quando ele sai de uma TV e é perseguido pelo inspetor até chegar à casa de Francesco, o diretor, onde descobrimos quem é o real assassino misterioso, que é morto graças aos dedos de madeira de Rey.
Todo o caso parece solucionado, mas, em uma reviravolta à italiana, Porfiry descobre que tudo aquilo que entendia como real na verdade foi fruto do trabalho de algum editor!!!



Após esta plot twist metalinguístico, nos créditos vem outra sacada interessante quando o nome de Rey aparece como o editor do filme!
Quando descobri que este filme era uma homenagem aos Giallo, fiquei empolgado, mas ainda mais quando soube que era produzido pela canadense Astron-6, pequena produtora independente que lembra a conterrânea Roadkill Super Star, de Turbo Kid, em que seus integrantes escrevem, dirigem e atuam nos seus filmes.  Eles já fizeram o excelente Father's Day (2011), com o selo Troma de qualidade e Manborg (2011). 
Com The Editor, a produtora optou por arrecadar recursos para o filme no site de financiamento coletivo IndieGoGo, que é uma forma de financiamento que tem se mostrado uma boa opção para produções independentes, como ocorreu com o já comentado Kung Fury.
Mas falando sobre The Editor, o filme tem diversas referências à filmes italianos: um assassino misterioso, mortes exageradas (ainda mais aqui), belas mulheres nuas, trilha sonora e visual que remetem diretamente à Itália dos anos 70, nomes de filmes fictícios no estilo característico dos giallo, como The Mirror and the Guillotine, The Cat with the Velvet Blade e Tarantola. Além disso, existem diversas referências à cenas de filmes, não apenas do giallo. Entre elas, cito os filmes Lo strano vizio della Signora Wardh, de Sergio Martino; La tarantola dal ventre nero, de Paolo Cavara, Profondo Rosso, de Dario Argento; The Beyond, Lo squartatore di New York, Zombi 2, Murder Rock, de Lucio Fulci. A fotografia avermelhada faz referência às obras de Argento, assim como a confusão entre o que é real e ficção que lembra A Cat In The Brain (Un gatto nel cervello), de Fulci. Arrisco a dizer também, que houve uma pequena homenagem à Videodrome, do conterrâneo deles, Cronenberg.  


Um ponto negativo quanto às milhões de referências que vão surgindo à todo momento, inclusive relações com o sobrenatural, é que podem tornar o filme confuso, mesmo que no final possa justificar alguma falta de sentido.
Além de todo este clima estético e sonoro de mistério e todas homenagens ao horror italiano, The Editor mantém o humor e o trash característicos da Astron-6. As atuações e situações são bem exageradas e o sangue jorra em profusão nas mais diversas mortes criativas e violentas. Este exagero talvez incomode quem goste do clima mais sério dos filmes originais e não aprecie tanto a beleza do trash, o que não é o meu caso.
Embora eu ainda considere Father's Day o melhor filme da Astron-6, The Editor é o mais bem produzido deles e que tem como um dos pontos positivos a trilha sonora, que lembra diretamente as trilhas da banda Goblin em diversos clássicos italianos e até mesmo de Despertar dos Mortos, de Romero. Isto se deve à participação de Claudio Simonetti, o brasileiro que fazia parte do Goblin. Desta vez eles investiram mais em atores mais consagrados, como Paz de la Huerta (Nurse 3D, Enter The Void), Laurence R. Harvey (The Human Centipede II e III), Tristan Risk (American Mary), e o famoso Udo Kier (Shadow of the Vampire, Suspiria, Blood For Dracula, Flesh For Frankensteins e centenas de outros), mas ainda assim mantiveram sua trupe de produtores-diretores-roteiristas-atores como os protagonistas.


Enfim, gostei do filme e acho uma divertida homenagem/paródia ao cinema italiano e o recomendo à quem gosta deste tipo de filme, ou apenas gosta de trash. Faço minha parte divulgando-o, pois acho que é um dos bons filmes de 2015 que acredito que não será tão lembrado quanto outros mais conhecidos mas inferiores.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Italian Spiderman (Austrália, 2007)

Filme: Italian Spiderman
Diretor: Dario Russo
Ano: 2007
País: Austrália
Duração: 40 minutos
Elenco: David Ashby, Chris Asimos, Anna Cashman 

Italian Spiderman é um super-herói charmoso e elegante que traja uma roupa vermelha ostentando em seu peito uma imponente aranha (de sete patas), possui uma longa cabeleira e um respeitoso bigode, que também é uma mortal arma quando usada como um bumerangue com lâmina.

O nosso herói italiano é encarregado pelo professor Bernardi a transportar um asteroide que caiu na terra contendo uma fórmula capaz de duplicar os seres aos quais são aplicados. Mas ele não contava com o seu rival, o Capitão Maximum, que usa uma máscara de lucha libre e domina o poder de encantamento de serpentes suspensas por fios e que, após uma perseguição de moto, o captura. Quando Spiderman recobra a consciência, em uma praia, cercado de garotas de biquíni e metralhadoras, Maximum o desafia para um duelo de surfe! Maximum, sabendo das habilidades esportivas do italiano, joga sujo e o ataca através de nadadoras agressivas com metralhadoras, mas o herói bigodudo é capaz de comunicar-se com os animais e pedir por ajuda aos distantes pinguins que chegam em bando para atacar suas algozes. 


Maximum de posse do asteroide e com Spiderman e o professor Bernardi presos, usa a fórmula mágica pra multiplicar o seu exército. Spiderman apela novamente aos seus instintos animais para controlar uma de suas irmãs aracnídeas que convenientemente aparece no momento necessário. A aranha dá um bote mortal saltando em um dos meliantes, o que permite que o aracnídeo humano se livre das amarras, mas não pode evitar a morte do professor Bernardi.


Agora, o heroico cover de Ron Jeremy terá que lutar contra o exército de clones do Capitão Maximum, contando com seus dons de teletransporte. Por fim, terá que enfrentá-lo, ambos com suas dimensões multiplicadas pela fórmula alienígena, mas como isso iria desestruturar a cidade inteira com seus poderes multiplicados exponencialmente, o filme termina assim, com uma conclusão em aberto instigando o intelecto do expectador.





Italian Spiderman, apesar do nome, surgiu de um projeto de conclusão de faculdade de Dario Russo, um estudante australiano, que criou um trailer falso em 2007. Como este trailer fez um grande sucesso na internet, a South Australian Film Corporation ajudou a sua produtora Alrugo Entertainment a financiar 10 mini-episódios de uma web-série de Italian Spiderman, que depois formaram um curta metragem de quase 40 minutos. Em 2011, Dario Russo e David Ashby (que atuou como o Italian Spiderman) produziram o seriado igualmente trash Danger 5.

O filme faz algo semelhante ao seriado japonês do Homem-Aranha, adaptando o herói americano ao contexto de outro país, neste caso a Itália, inclusive com um duelo de gigantes, como na versão japonesa. O que também lembra as versões de baixa renda dos heróis picaretamente plagiados em filmes tosquíssimos da Turquia, Índia e México. Além disso, o filme ainda tem o aspecto das produções dos anos 70, inclusive com uma abertura a lá 007.

Italian Spiderman é uma produção propositalmente trash, repleta de exageros, defeitos propositais (ou não), belas garotas e situações nonsense que merece sua atenção.