domingo, 26 de julho de 2015

Cecil B. DeMented (EUA, 2000)

Filme: Cecil B. DeMented / Cecil Bem Demente
Diretor: John Waters
Ano: 2000
País: EUA
Duração: 87 minutos
Elenco:  Melanie Griffith, Stephen Dorff, Alicia Witt

Honey Witlock (Melanie Griffith), além de uma pessoa um tanto quanto desagradável, é uma estrela de Hollywood que está indo à um evento em um cinema de Baltimore para a estreia de seu novo filme. Porém, logo vemos que os funcionários do cinema estão tramando algo e colocam seu plano em prática se rebelando armados e sequestrando a atriz.

A organização dos funcionários na verdade é uma equipe de cinema underground liderada por Cecil B. Demented (Stephen Dorff), um cineasta que repudia o grande cinema comercial de Hollywood. Cada um de seus colaboradores cinéfilos possui uma tatuagem e características do cinema de diretores, como Otto Preminger, Andy Warhol, Herschell Gordon Lewis, Sam Peckinpah, Spike Lee, David Lynch, Willian Castle, Kenneth Anger, Pedro Almodóvar, Rainer Werber Fassbinder e Sam Fuller.



Eles levam a atriz ao local onde vivem, um cinema abandonado, e a obrigam a atuar para o seu filme como uma terrorista contra a indústria do cinema, a qual ela própria faz parte. A primeira cena ocorre em um cinema que exibe um festival de filmes do Pasolini, onde os personagens reclamam da falta de público, pois saiu uma continuação dos Flintstones e desejam se rebelar contra este sistema cinematográfico. Após esta rápida cena, eles encerram as filmagens em ambiente cenográfico e, de agora em diante, filmarão o restante do filme com pessoas e situações reais.


O grupo armado passa a invadir cinemas e eventos como forma de ir contra a indústria milionária do cinema convencional. Em uma de suas intervenções, com Honey cada vez mais engajada com a ideologia do grupo, eles invadem uma convenção onde estão produtores de filmes que são questionados sobre continuações de filmes de sucesso financeiro, filmes baseado em video games e remakes de filmes estrangeiros, o qual o produtor responde alegando que os americanos não gostam de ler legendas. 

Agora fugindo da polícia e de um grupo de senhoras que defendem os inofensivos filmes família, eles entram em um cinema de artes marciais e os fãs de ação são convocados a ajudar a fuga de Cecil e sua turma. 



Em seguida eles invadem o set de filmagem da milionária continuação de Forrest Gump, rendendo os funcionários antes de um novo confronto, deixando mais mortos. Em nova fuga eles entram em um cinema pornô onde está passando um filme protagonizado por Cherish, uma das integrantes da equipe e clamam por ajuda dos fãs do pornô.

Para finalizar o filme, eles agora invadem um Drive-In e farão tudo para concluir o filme, mesmo que isto custe suas vidas em confronto com a polícia. Por fim, Cecil consegue muitos fãs, será que isso significa que ele próprio não será uma outra forma de cinema comercial?


Cecil B. Demented, de 2000, marca John Waters retornando e homenageando o cinema marginal, transgressor e anticomercial de onde ele surgiu. Mesmo que o filme não seja tão escatológico ou trash quanto a sua famosa trilogia (Pink Flamingos, Female Trouble e Desperate Living) e tenha um orçamento bem considerável (10 milhões), Cecil B. Demented mostra a fúria do cinema independente de guerrilha (aqui retratado realmente como um grupo de guerrilheiros militantes) e é um verdadeiro manifesto contra a indústria do cinema mainstream, que visa principalmente o lucro, fazendo filmes família, conservadores, moralistas, sem conteúdo, explorando franquias de sucesso à exaustão, insistindo em fazer remakes em detrimento de um cinema mais independente, autoral, contestador, inovador e realista. 

A crítica do filme também pode se aplicar ao próprio Waters, que também se rendeu ao cinema comercial quando fez filmes mais convencionais e lucrativos como Cry-Baby (1990), Mamãe é de Morte (Serial Mom, 1994) e Hairspray (1988), mostrando que como em Cecil B. Demented, ninguém está livre de ser comercializado pela indústria. 


O personagem de Cecil B. Demented pode muito bem representar um retrato autobiográfico do próprio John Waters em seu início anárquico, que fez diversos filmes com a mesma equipe, filmando sem autorização em lugares públicos, sem qualquer orçamento e preocupações técnicas e sempre disposto a subverter tabus e normas da sociedade. Os nomes dos diretores mencionados no filme são algumas influências para o seu cinema.

O nome do filme foi uma alusão ao cineasta Cecil B. DeMille, que ao contrário do personagem do filme, era conservador e ativista republicano. A história do filme foi levemente baseada em Patty Hearst, uma atriz e herdeira de um império jornalístico que foi sequestrada por membros do Exército Simbionês de Libertação (grupo com ideais marxistas e antirracistas) e que acabou se aliando à eles e ajudando-os em um assalto à um banco em 1974. O mais curiosos é que ela mesma tem uma participação no filme e em alguns outros de John Waters.

A história metalinguística com a filmagem de um filme dentro do próprio filme lembra o já comentado Terror Firmer, que também tem um caráter autobiográfico retratando Lloyd Kaufman e sua produtora Troma durante a realização de um filme, que acredito que também tenham sido muito influenciados por John Waters. 
Na trilha sonora participa a banda de grind/noisecore/experimental The Locust dando um peso e insanidade às cenas.

domingo, 19 de julho de 2015

Desperate Living (EUA, 1977)

Filme: Desperate Living
Diretor: John Waters
Ano: 1977
País: EUA
Duração: 90 minutos
Elenco:  Liz Renay, Mink Stole, Susan Lowe

Peggy Gravel (Mink Stole) acaba de sair do hospital psiquiátrico e está em casa aos cuidados de Grizelda, sua enfermeira. Peggy tem sérias crises nervosas e vive histérica gritando, com uma leve tendência à aumentar os acontecimentos, como quando acha que querem matá-la quando a bola com que os meninos brincam na rua quebra sua janela, ou quando vê os filhos pequenos pelados brincando de médico e acha que estão transando e sua filha está grávida. Para aguentar tudo isso, Grizelda costuma tomar as bebidas do sr. Gravel, que a demite por pegá-la em flagrante com uma garrafa.

O sr. Gravel tenta dar a medicação para Peggy, mas ela se nega e o acerta com uma garrafada na cabeça. Grizelda, ouvindo a gritaria, corre para o quarto e salva Peggy do marido sufocando-o até a morte sentando em sua cara.

Desesperadas, as duas fogem, mas durante a fuga são paradas por um policial que usa lingerie e quer as calcinhas e beijos das garotas para deixá-las livres. Com o policial em extase, seguem a pé para Mortville, uma vila habitada por excluídos, como assassinos, nudistas e lésbicas. Lá elas alugam um quarto em uma espelunca onde um homem acabara de se suicidar. O estabelecimento é administrado por Mole (Susan Lowe), uma ex-lutadora que fugiu para Mortville após matar o oponente e o juíz em uma de suas lutas. Ela namora Muffy (Liz Renay), uma mulher que matou a babá sufocando-a na ração do cachorro após chegar em casa e ver que seu bebê estava na geladeira.


Mas Mortville não é uma simples vila, é um reino governado com tirania pela rainha Carlotta (Edith Massey), que tem como guardas reais, homens em roupas sadomasoquistas que precisam satisfazer os desejos sexuais da rainha. Aqueles que contrariam a rainha podem ser julgados cruelmente com castigos como comer baratas. Nem sua própria filha, a princesa Coo-Coo (Mary Vivian Pearce), pode discutir com a rainha, e mesmo que ela já tenha 38 anos, não aprova que a filha veja seu grande amor, um lixeiro nudista da vila, por isso Coo-Coo decide fugir.


Enquanto a rainha se farta com um banquete, Mole e Muffy, param não passarem fome, comem um saboroso rato no café da manhã. 
Certo dia, Carlotta decreta o dia do inverso, onde todos tem que trajar roupas ao contrário e andar para trás. Andando de costas, Peggy, Grizelda, Mole e Muffy vão se divertir um pouco em um bar de lésbicas, que tem como atração um show de espancamento de homens. Grizelda logo se ambienta (até porque já tinha feito uma investida sexual com Peggy), mas Peggy, enjoada como sempre, não gosta muito do ambiente, quando mulheres a atacam ou quando seios aparecem em buracos na parede do banheiro. Assim, ela acaba indo embora.


Peggy, ainda como burguesa esnobe e conservadora, alia-se com a rainha e entrega Coo-Coo à ela. Além disso, ajuda Carlotta a espalhar raiva pela cidade.
Mole, que havia pego um bilhete de loteria de Peggy, ganha na loteria e decide fazer uma mudança de sexo, obrigando o médico e fazer um implante de pênis. Mas o novo acessório fica com uma aparência grotesca, assustando Muffy, que o corta fora.
Enquanto Peggy está do lado aristocrata da vila, Coo-Coo, agora infectada com raiva, alia-se à plebe e quer que matem a rainha. Mole e Muffy, prontas para a revolução, invadem o castelo, libertando a vila da tirania de Carlotta que finalmente alimentará o povo em uma festa em que ela própria é servida assada.


Comentários:
Desperate Living é um conto de fadas na visão de John Waters, ou seja, é sujo, imoral, grotesco, proibido, escatológico, cheio de nudez, sexo, vômitos e lesbianismo, parecendo ter sido ambientado em um lixão. Apesar de divertido, não é um filme bobo, sem nada a dizer. Waters sempre está disposto a provocar e incomodar seu expectador, sempre atacando os valores da sociedade tradicional americana e neste, satirizando um governo tirânico e fascista que é derrubado por seu cinema revolucionário. 

Ainda que eu não considere tão sujo quanto seu maior clássico Pink Flamingos, Desperate Living mantém os elementos que caracterizam o cinema transgressor de Waters, portanto, sei que muitos poderão se impressionar com o conteúdo do filme e se sentirem ofendidos ou perturbados, sobretudo aqueles que são veementemente contra a homossexualidade, tema recorrente nos filmes do diretor.

O filme tem como principais protagonistas as mulheres, e desta vez não conta com a participação da musa Divine, sempre presentes nos filmes de Waters durante este período. Além de Divine, David Lochary também não participou pois morreu de overdose em 1977. Para compensar esta ausência, Mink Stole tem uma atuação destacada, insana e histérica. Ela, juntamente com boa parte do elenco são atores recorrentes em diversos filmes do diretor.

Desperate Living custou cerca de $ 65.000 e faz parte da chamada trilogia trash de Waters, incluindo também Pink Flamingos e Female Trouble, embora também pudessem ser adicionados os mais antigos Multiple Maniacs e Mondo Trasho. Após Desperate Living, John Waters teve uma fase mais comportada e mainstream com filmes de maior orçamento, como Hairspray (1988), Cry-Baby (1990) e Mamãe é de Morte (Serial Mom, 1994), mas em 2000 faz Cecil Bem Demente (Cecil B. DeMented), onde critica a industria convencional do cinema, mas isto é assunto para um outra postagem. 

domingo, 12 de julho de 2015

They Live (EUA, 1988)

Filme: They Live / Eles Vivem
Diretor: John Carpenter
Ano: 1988
País: EUA
Duração: 93 minutos
Elenco: Roddy Piper, Keith David, Meg Foster

Um homem (Roddy Piper, creditado como Nada), chega à cidade trazendo apenas uma mochila com seus pertences em busca de emprego. Após lhe negarem vaga em uma agência de empregos, ele consegue um trabalho braçal em uma construção. Lá conhece Frank, que lhe convida para ir ao abrigo de sem tetos em que ele está vivendo. Frank deixou a família em outra cidade em busca de mais oportunidades, mas sofre as consequências de um mundo egoísta e ganancioso, onde é cada um por si. Ele está cansado disto, enquanto que Nada ainda acredita na América e tenta seguir as regras.
Durante uma transmissão de TV, ocorre uma interferência por um canal clandestino, onde aparece um homem alertando sobre sinais que induzem as pessoas a manterem-se acomodadas e indiferentes. Segundo o homem, "eles" mantêm-se à salvo enquanto a população segue adormecida e egoísta. 


Nada suspeita de um dos integrantes do acampamento, que vai de madrugada à igreja ao lado e resolve investigar. Lá descobre que a igreja trata-se de uma fachada para uma organização secreta que quer abrir os olhos das pessoas, pois é deste local que são produzidos os sinais de TV. O som do culto na verdade é uma gravação e lá encontra um laboratório, algumas lentes de óculos escuros, muitas caixas e uma faixa com os dizeres "Eles vivem, nós dormimos". 


A polícia acaba descobrindo à respeito e invade o acampamento e a igreja, destruindo-os e espancando os responsáveis pelas interferências nas transmissões. Nada entra no que sobrou da igreja e consegue uma das caixas e se decepciona ao ver que são apenas óculos escuros. Mas, ao colocar os óculos, percebe que não são simples óculos. Com eles, Nada passa a ver de outra forma as placas de publicidade. Eles consegue ver as mensagens subliminares escondidas nos anúncios, como as seguintes: "Obedeça", "Case e reproduza", "Não há livre pensar", "Consuma", "Assista TV", "Conforme-se", "Se submeta", "Não pense", "Compre", "Durma", "Não questione a autoridade", "Permaneça adormecido". As notas de dinheiro aparecem como "Este é o seu Deus". Além disto, algumas pessoas também são vistas como seres cadavéricos de outro planeta, especialmente as pessoas da elite, políticos e alguns policiais.


Nada é descoberto e os estranhos seres comunicam-se entre si através de um relógio. A polícia o persegue e ele acaba matando dois policiais, que não eram humanos. A seguir, entra armado em um banco, com diversas daquelas criaturas e manda a frase mais memorável do filme:
- "Eu vim aqui para mascar chicletes e chutar traseiros. E os meus chicletes acabaram!"


Dito isto ele começa a matar os alienígenas e sequestra uma mulher, Holy, para fugir da polícia. Eles vão até a casa dela e quando ele está distraído, ela o acerta uma garrafada o fazendo voar pela janela e rolar por um barranco abaixo.

Nada volta para tentar convencer Frank sobre os óculos, mas este se recusa a usá-lo e assim se inicia uma longa briga, digna de luta livre (aproveitando que Roddy Piper fora um lutador profissional entre 1973 e 1987). A luta leva alguns longos minutos e, com os dois quebrados, Nada consegue fazer com que Frank use os óculos e veja a cruel realidade em que estão submetidos.


Novamente como aliados, os dois vão ao novo esconderijo da organização e tomam conhecimento sobre as criaturas: eles são empresários capitalistas que vêem a Terra como o terceiro mundo do universo, sugando tudo que podem para depois explorarem outro planeta. Para isso contam com a ajuda dos próprios humanos que por dinheiro aliam-se aos alienígenas.

Só há um meio de detê-los: encontrar o sinal utilizado para manter todos alienados e destruí-lo! Naturalmente este sinal alienante é provindo de uma estação de TV.
Ainda no esconderijo, o ingênuo Nada reencontra Holy, que trabalha em um canal de TV e diz que não há nada lá. Mas como temos um caguete no local, logo em seguida um batalhão da polícia invade o esconderijo matando muitas pessoas. Encurralados, Nada e Frank convenientemente conseguem ativar o relógio de um dos aliens que tinham consigo e escapam por um portal que se cria e vão parar em uma espécie de base subterrânea. 


Andando um pouco encontram uma convenção com líderes aliens e a elite humana, que comemoram a vitória sobre um grupo de terroristas. Um dos engravatados vê os dois e, achando que estão do seu lado, faz um tour pelo local, mostrando-lhes uma espécie de estação rodoviária intergaláctica, por onde se transportam os seres do outro planeta, que, segundo ele, já controlam toda Terra e, ganancioso com é, diz que o que se pode fazer é ajudá-los e faturar com isso. Também mostra a estação de TV deles, que é onde Holy trabalha. 


Eles encontram Holy e seguem para o terraço, em direção à antena, enquanto entram em confronto com as tropas alienígenas. Só no terraço Nada descobre que Holy está do lado deles e tenta impedi-lo de destruir a antena. Mesmo encurralado por helicópteros e por Holy armada, que diz que isto não mudará nada, ele consegue atirar na antena, mesmo que isso lhe custe a vida. Assim, o sinal emitido pela antena é parado, abrindo os olhos de todos e fazendo com que o real aspecto dos aliens e das mensagens subliminares possam vistos por todos.


Comentários:
Após o fracasso comercial de Aventureiros do Bairro Proibido, Carpenter voltou às produções mais independentes e com menor orçamento. Assim, após Príncipe das Trevas, ele fez Eles Vivem, baseado no conto "Eight o'clock in the morning", de Ray Nelson, onde está mais ácido do que nunca e apresenta o seu trabalho mais crítico e político. Ele critica fortemente o capitalismo, o estímulo à individualidade, egoísmo e ganância, o consumismo, a alienação por parte da publicidade e televisão, a segregação entre classes, repressão policial defendendo o interesse de poderosos e a exploração dos mais pobres e de países menos desenvolvidos.

O que no início parece um filme convencional com uma certa crítica, torna-se um manifesto contra a alienação e consumismo quando Nada coloca seus óculos. Acredito que as imagens em preto e branco e os alienígenas que aparecem quando são colocados os óculos, são uma homenagem de Carpenter aos filmes de Sci-Fi dos anos 50, porém, como bem mencionado pelo Exumador, do Podtrash, Carpenter inverte a lógica destes filmes fazendo com que o inimigo retrate o próprio capitalismo americano, algo que já está presente e não trata-se de uma ameaça externa. 

A metáfora dos óculos escuros é interessante e clara, sendo que através dele pode-se ver o que os raios luminosos televisivos e alienantes que nos impedem de enxergar. Sobre esta questão o filme lembra um pouco Videodrome, de David Cronenberg. 

Ao retirar os óculos, Nada sente dores de cabeça, assim como aqueles que assistem às transmissões piratas, reforçando a ideia de que adquirir conhecimento não é tão cômodo como seguir na ignorância. O mesmo para justificar a longa luta entre Nada e Frank, pois a luta pela verdade é lenta, difícil e dolorida.

Infelizmente este filme é um daqueles que os teóricos da conspiração utilizam para justificar teorias Illuminatis, e de nova ordem mundial, mostrando que o mundo é dominado por determinado grupo de pessoas mas sem realmente reparar na crítica social que o filme faz. Acredito que o motivo para algumas pessoas aparecerem como os ETs-caveira, é para ilustrar claramente a segregação de classes existente. 

O personagem de Roddy Piper no filme foi uma das inspirações para o jogo Duke Nukem, tanto que uma das frases do jogo é: "It's time to kick ass and chew bubble gum, and I'm all out of gum".

Roddy Piper, além de ter sido lutador de wrestling, como ator também fez o filme Hell Comes To Frogtown. Já Carpenter, como em vários de seus filmes, também participa como compositor da trilha sonora.
Em referência musical, vale citar a banda de hardcore They Live, de Nova York, que teve inclusive um álbum chamado We Sleep.

domingo, 5 de julho de 2015

Black Belt Jones (EUA, 1974)

Filme: Black Belt Jones / Jones, o Faixa Preta
Diretor: Robert Clouse
Ano: 1974
País: EUA
Duração: 85 minutos
Elenco: Jim Kelly, Gloria Hendry, Scatman Crothers

Jones, o Faixa Preta (Jim Kelly), é convocado pela polícia para se infiltrar em uma vinícola onde um grupo mafioso mantém fotos secretas. Como não é bobo, ele se nega, já que três agentes haviam sido eliminados na missão. Depois disso, Jones, ao sair da delegacia, se depara com uma gangue aleatória, para apresentar os créditos iniciais, com direito a cenas congeladas, a bela música tema do filme e claro, para mostrar as qualidades de faixa preta de Jones, além do seu black power de respeito, fazendo caras e bocas e dando seus gritinhos característicos, já fazendo valer o filme.


O problema a seguir é que a academia de karatê de Papa (Scatman Crothers), que teve Jones como aluno, está no caminho de uma construção que os mafiosos desejam fazer. O encarregado para tentar adquirir a academia é Pinky, retratado como um negro capitalista que defende os interesses dos brancos poderosos. Tanto que Pinky chega a ser atacado por um grupo de negros que quer que ele pare de vender drogas na comunidade.
Na primeira tentativa, Pinky e seu bando são postos para correr da academia, mas depois Papa acaba sendo morto por não aceitar vender a academia.

Turma da academia 

Pinky e seus capangas

Após a morte de Papa, sua filha Sidney (Gloria Hendry), que vivia longe, volta para o enterro. Depois disso ela vai até o bar de Pinky e apresenta suas habilidades de lutadora enchendo de porrada os capangas.

Jones e Sidney acabam se envolvendo, mas ela está longe ser frágil e deixá-lo resolvendo os problemas sozinho. Em certa cena, Jones é convocado e pede para Sidney cuidar da louça enquanto. Ela dá um jeito na louça, esmigalhando-a com uma arma e parte junto com Jones, mostrando ser uma mulher forte, de atitude e muito boa de briga.


O bando de Pinky sequestra Quincy, um dos jovens integrantes da academia, e em troca exige dinheiro. Para poder pagar Pinky, Jones decide aceitar a missão de entrar na vinícola, mas para isso conta com a ajuda de suas amigas atletas de cama elástica. Engenhosamente como em um desenho animado, para enganar a câmera de segurança, colocam uma cama elástica abaixo da câmera, tiram uma foto naquela altura e a colocam em frente à câmera, podendo assim facilmente entrar e pegar o dinheiro dos mafiosos.
Eles pagam Pinky, mas os mafiosos descobrem que aquele dinheiro é o mesmo que foi roubado deles, o que vai gerar ainda muitas confusões, perseguições, lutas, bolhas de sabão culminando com o lixo indo para o seu devido lugar.

Ação, diversão e bolhas de sabão

Já era tempo de constar um filme Blaxploitation neste blog. Explicando brevemente, o Blaxploitation se baseava em filmes de baixo orçamento centrados na comunidade negra, negando os estereótipos pejorativos à qual os negros eram frequentemente retratados nos filmes, para colocá-los como protagonistas e criar novos estereótipos, mostrando os heróis negros, tanto homens quanto mulheres, como fortes, durões, bons de briga e sedutores. O Blaxploitation não pode ser considerado um gênero em si, já que havia filmes tanto de ação, crime, como de comédia e horror. O Blaxploitation viveu seu auge durante a década de 70 e tinha como um dos destaques a excelente trilha sonora, recheada de soul, jazz e funk.
Os primeiros filmes foram Sweet Sweetback's Baadassss Song e Shaft de 1971, que tiveram um bom retorno fazendo viessem vários outros, como Super Fly (1972), Coffy (1973) e Foxy Brown (1974), estes últimos protagonizados por Pam Grier, uma das musas do blaxploitation. Também foram feitas algumas versões de filmes de horror, como Blacula (1972), Blackenstein (1973), Dr. Black, Mr. Hyde (1976). Vale a pena também conferir o filme Black Dynamite, de 2009, que é uma ótima homenagem aos filmes daquele período.
Black Belt Jones é um filme muito divertido, que une o blaxploitation aos filmes de artes marciais em destaque na época principalmente por Bruce Lee. Tanto que Jim Kelly era campeão de karatê e havia feito Operação Dragão (Enter The Dragon, 1973), um ano antes, contracenando com Bruce Lee e também com Robert Clouse na direção, que também faria o Jogo da Morte (Game of Death, 1978), com Bruce Lee.

Black Belt Jones é citado no documentário 50 Worst Movies Ever Made (2004), como sendo um dos 50 piores filmes já feitos, o que não faz nenhum sentido, já que sabemos que tem filmes muito piores e menos divertidos. Tudo bem que as coreografias das lutas são um tanto mal feitas e existem diversas situações toscas, mas que só aumentam a diversão.

Jim Kelly ainda participou de outros filmes Blaxploitation como Three The Hard Way (1974), Black Samurai (1977) e também fez The Tattoo Connection (1978) produzido em Hong Kong e que também recebeu o nome oportunista de Black Belt Jones 2, mesmo que Jim Kelly seja creditado como Lucas no filme.
Scatman Crothers, que fez o Papa, atuou em dezenas de filmes e séries, incluindo os clássicos Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975) e O Iluminado (The Shining, 1980).
Já Gloria Hendry, fez o blaxploitation Black Caesar (1973) e teve seu maior destaque no filme do 007 Live and Let Die (1973), sendo a primeira bond girl negra.


Quanto à referência musical da vez, cito a banda californiana de power violence Spazz, uma das minhas favoritas por sinal, cujos integrantes eram fanáticos por filmes B e exploitations e era comum ver homenagens nas artes de seus álbuns ou vinhetas de trechos de filmes em suas músicas. Um exemplo é a música All Urban Outfield, que tem como introdução um trecho da música de abertura de Black Belt Jones.