quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Juan de Los Muertos (Cuba, Espanha, 2011)

Filme: Juan de Los Muetos / Juan Dos Mortos / Juan of the Dead
Diretor: Alejandro Brugués
Ano: 2011
País: Cuba / Espanha
Duração: 92 minutos
Elenco:  Alexis Díaz de Villegas, Jorge Molina, Andrea Duro
IMDb: 6,3


Juan é um sobrevivente, que ao invés de ir para Miami trabalhar, como fazem muitos cubanos, prefere ficar em Cuba em busca de oportunidades e vadiando, um direito básico. Ele vai levando a vida como pode com suas malandragens, até que certo dia, sua vizinha o chama para averiguar seu marido, que possivelmente está morto. Mas o homem volta a vida e tenta atacar Juan que se obriga a pedir ajuda para seu amigo trapalhão Lazaro e Vladi Califórnia, o filho deste. Lazaro, com seus dedos leves, acaba disparando o seu arpão, atravessando o velho e parando em sua esposa, a matando. Mas o velho continua "vivo", andando em direção a eles com o cabo do arpão o atravessando, em uma das mais criativas e divertidas cenas que vi nos últimos tempos. 


Ainda nesta cena hilária os três tentam cravar estacas no peito do zumbi, achando se tratar um vampiro. Juan tenta detê-lo com uma cruz e rezando, como se estivesse possuído pelo demônio, mas só surte efeito quando a cruz é batida com força na cabeça do velho morto-vivo, sem saber que se trata de um zumbi. 


Para livrarem-se dos corpos, empacotam a velha e a levam para o elevador. O elevador para na metade do andar e eles a colocam para fora, mas suspeitando que alguém está vindo pelo corredor, fazem, com pulos, o elevador descer, mas o cadáver da velha é cortado ao meio quando o elevador desce.

Mais tarde, em uma manifestação anti-EUA, os zumbis passam a atacar as pessoas, mordendo muitas delas e as tornando também zumbis, espalhando-se rapidamente. Há zumbis, inclusive, nadando e sendo devorados por tubarões, lembrando Zombie, de Lucio Fulci. Há também outras referências à filmes de zumbis, a começar pelo título ao estilo Romero e até ao Fome Animal, quando o padre americano fala a célebre frase: I will kick ass for the lord! 


Enquanto muitos estão indo para Miami, Juan, mesmo com as dificuldades, aproveita para fazer negócio com a situação. Eles abrem o "Juan dos Mortos", cujo slogan é "Matamos seus entes queridos" que, quando chamados, vão às casas matar os zumbis e fazer um dinheiro.
Além do carismático Juan, a equipe é formada também por Lazaro, Vladi, a travesti China e Primo, um grandalhão que tem pavor a sangue e precisa cobrir os olhos. Mais tarde Camila, a filha de Juan junta-se ao grupo. Acabamos simpatizando com os personagens, cada um com suas habilidades, passando por situações divertidas, trapalhadas e sempre tentando tirar vantagem, como quando pegam a cadeira de rodas de um deficiente para carregar caixas de bebidas e o deixam para ser atacado pelos zumbis. Engraçado também é a dança das algemas e o último pedido que Lazaro faz a Juan.


Diferente de muitos filmes genéricos de zumbis que têm saído nos últimos anos, Juan de Los Muertos é bastante criativo e divertido, fazendo uma forte critica o governo cubano, mostrando a coragem do diretor através deste gênero tipicamente norte-americano. Há críticas também para a mídia controlada pelo governo que, neste caso chama os zumbis de dissidentes, como se eles estivessem a serviço dos americanos. Outra possível crítica é para o próprio povo cubano que insiste em tentar a sorte nos EUA, e também os retrata como folgados que tentam tirar vantagem o tempo todo. 

O lado negativo é o uso de CGI em algumas cenas que acabaram não ficando das melhores, mas como é pouco usado, não chega a comprometer este bom filme que termina ao som da impagável versão de Sid Vicious para My Way. 
Juan De Los Muertos é uma co-produção de Cuba e Espanha, escrita e dirigida por Alejandro Brugués, que ironicamente é argentino.

sábado, 24 de agosto de 2013

Baby Blood (França, 1990)

Filme: Baby Blood
Diretor: Alain Robak
Ano: 1990
País: França
Duração: 82 minutos
Elenco: Emmanuelle Escourrou, Christian Sinniger, Jean-François Gallotte 


Baby Blood é, para mim, mais uma grata surpresa vindo da França, país no qual tem se destacado nos últimos anos pelas produções violentas e perturbadoras como Eles (Ils), Alta Tensão (Haute Tension), A Fronteira (Frontière(s)), A Invasora (À l'intérieur), entre outros. Mas muito antes desta recente safra de horror, foi produzido Baby Blood de Alain Robak em 1990.


Um bizarro início apresenta a formação do planeta Terra narrado pela estranha voz de um ser presente há milhões de anos mas que ainda espera para nascer (só não me pergunte como ele pode falar sem ter nascido, mas isso não é importante).



O ser parasita se hospeda em um leopardo que é trazido da selva para um circo na França, lembrando o início de Fome Animal, que seria filmado mais tarde. No circo o animal acaba sendo explodido pela estranha criatura que vai buscar abrigo no corpo de Yanka, entrando por aquele local que você está pensando, enquanto ela dorme.






Ela foge do circo, deixando seu namorado/marido autoritário, e o parasita começa a se comunicar com ela, exigindo sangue para se desenvolver e finalmente nascer, por horas até com certo bom humor. Hesitante no início, depois, como toda boa mãe, ela não mede esforços e leva os instintos maternos às últimas consequências, mudando-se constantemente e levando uma vida independente. Por onde passa, ela vai empilhando cadáveres, a maioria homens, para saciar o apetite de seu incomum filho. Este objetivo nos proporciona cenas de homens mutilados, cabeças esmagadas, Yanka sequestrando um ônibus para doação de sangue e matando quem se puser em seu caminho. Uma das melhores cenas é quando ela está na ambulância prestes a dar a luz e enche o enfermeiro de gás, fazendo-o inchar e explodir deixando a ambulância repleta de sangue e restos humanos. 




O filme vai se tornando cada vez mais sangrento e, por fim, após Yanka simpatizar com a criatura, o bebê finalmente nasce sob a forma humana, que depois é abandonada dando lugar à sua verdadeira e monstruosa forma.
O gore é abundante neste filme, também com destaque para o sonho que ela tem quando braços sangrentos saem de sua barriga. Ainda há alguns momentos de nudez da protagonista e algumas passagens cômicas.


O filme tem um ritmo rápido com uma edição bastante interessante, até alguns efeitos de fast-forward, tornando-o agradável e divertido de assistir e nos deixando curiosos para ver os desfecho do filme, que não deixa a desejar.  Destaque para a constante sanguinolência bem empregada em bons efeitos.



Um filme diferente e único, bem feito e com um bom roteiro, misturando elementos de bebês demoníacos presentes em O Bebê de Rosemary e Nasce Um Monstro (It's Alive) com a sede de sangue de outros como Enraivecida na Fúria do Sexo (Rabid, de Cronenberg), O Soro do Mal (Brain Damage) e Basket Case, mas sem tanto humor destes últimos. 
É sempre bom descobrir filmes surpreendentes como este.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Plan 9 From Outer Space (EUA, 1959)

Filme: Plan 9 From Outer Space / Plano 9 do Espaço Sideral
Diretor: Edward D. Wood Jr.
Ano: 1959
País: EUA
Duração: 79 minutos
Elenco: Gregory Walcott, Mona Mckinnon, Duke Moore, Vampira, Bela Lugosi, Criswell
IMDb: 3,8



"Estamos todos interessados ​​no futuro, por que é onde você e eu vamos passar o resto de nossas vidas. E lembre-se meu amigo, eventos futuros como estes irão afetá-lo no futuro." Criswell e suas previsões.

Muitos consideram Plan 9 From Outer Space um dos piores filmes já feitos, motivo que o tornou tão popular, embora saibamos que existam coisas bem piores. 

Logo no início começamos a ver o motivo de tal fama. Após a incrível previsão citada no início deste texto, um avião é surpreendido por um disco voador (uma tampa de panela segurada por um fio).  O interior do avião é de uma tosquice ímpar, com destaque para o manche do piloto e a cortina de banheiro ao fundo. Sem contar o discreto microfone aparecendo na parte superior da tela.


Após um passeio pelos céus, o disco voador pousa em um cemitério. De trás das tumbas sai uma mulher morta (Vampira, em seu papel clássico) e, enquanto ela aparece num cenário à noite, os coveiros que se assustam com sua presença, ainda estão na luz do dia! Mais tarde os coveiros são encontrados mortos pela polícia, que passa a investigar o caso. 


O disco voador volta a atacar com suas luzes e um homem que acabara de morrer (o húngaro Bela Lugusi, com seu clássico traje de Drácula) sai de outra tumba (porém, nesta cena já não é mais Lugosi, e sim seu sósia) . Ele e Vampira atacam o inspetor Clay (Tor Johnson, um ex-lutador de luta livre que fez vários filmes com Ed Wood), que atira neles, mas sem resultado e acaba morrendo. Interessante é o cenário tosco do cemitério feito de papelão e com uma estranha neblina apenas em uma parte do cemitério.
Vários discos voadores aparecem na cidade, em efeitos dos mais convincentes, sobrepondo-se à cenas de locais da cidade.


O exército é convocado, com imagens de arquivo de mísseis sendo disparados e caças sobrevoando, se misturando a tosquice do filme, com o coronel em uma sala sem fundo. Os três discos voadores ficam balançando nos céus, (quase sempre com o mesmo fundo), enquanto as explosões (que mais parecem estalinhos) não são capazes de abatê-los.


Depois disso as naves voltam para a central, que mais parece um pogobol metálico, para receberem a recarga. Os alienígenas tem a mesma forma que humanos e falam sobre o plano 9. Trata-se de uma medida para ressuscitar os mortos com suas armas de eletrodos  Eles não controlam os mortos, apenas os ligam/desligam com suas armas, que são jogadas no chão para voltarem a funcionar, quando estas falham. Realmente um povo muito avançado.


O piloto do avião, voa novamente e faz uma ligação diretamente do avião para a sua esposa. A tonta não fecha a porta dos fundos e é atacada e perseguida por um defunto (novamente o sósia de Bela Lugosi, fisicamente bem diferente), com toda a sua agilidade. Naturalmente ela vai para o cemitério, enquanto, repetidas vezes, uma hora está claro, outra está escuro, dependendo do ponto de vista, mostrando que Ed Wood realmente se preocupava em fazer algo bem feito e de qualidade, refazendo milhares de vezes cada tomada (não). Após ficar noite mais uma vez, o inspetor Clay ressuscita e ficam passeando infinitas vezes pelo mesmo cenário enquanto, é claro, continua alternando entre o dia e a noite. 


Os militares com toda a sua inteligência desenvolvem um tradutor para qualquer idioma, mesmo os desconhecidos!! Este grava as transmissões alienígenas que revelam que estes seres são muito mais evoluídos que os humanos (tanto que até sabem que eles inventaram este tradutor universal!). Eles questionam os humanos que se acham os únicos no universo e que com suas armas nucleares colocam todo o universo em risco, e dizem que vieram salvar a terra. Eles pedem para os discos não serem mais atacados, porém, como isto não é respeitado, acabam sendo como os humanos: intolerantes. Assim, eles, para salvarem o próprio planeta tentarão destruir a ameaça terráquea.

Os policiais e o piloto, que até recebe uma arma dos oficiais, chegam até a nave escondida e, para o nosso espanto, a nave não tem o formato arredondado de uma tampa de panela, como vimos nos céus, mas sim quadrado, parecendo um prédio! Talvez a nave possa se adaptar a diferentes formas, deve ser isso. Detalhes à parte, eles entram na nave sem problemas e lá encontram os extra-terrestres, que não parecem tão evoluídos como dizem. Ele volta a falar nos perigos que os humanos podem criar para todo o universo e que, para sobreviverem, precisam destruir o planeta terra e fala, até mesmo que também foram criados por deus. Realmente não são nada evoluídos.

Os terráqueos ainda são melhores lutando e conseguem derrotá-los e destruir os equipamentos cheios de luzes piscantes e saírem a tempo, antes da nave sair voando em chamas e explodir.

Com toda a onda de filmes Sci-Fi dos anos 50, com histórias de ameaças alienígenas, numa época de guerra fria, Ed Wood também não podia deixar de fazer a sua obra do gênero. O filme foi produzido em 1956 e somente em 1959 foi comercializado. Foi financiado pela Igreja Batista, sob o pretexto de, com o sucesso do filme, filmar 12 filmes sobre os apóstolos. O nome original do filme seria Ladrões de Túmulos do Espaço Sideral, mas como a igreja não gostou, foi alterado para Plano 9 do Espaço Sideral. Ele e sua equipe chegaram a serem batizados pela igreja para conseguir o financiamento. Ed Wood ainda teve que dar um dos papéis principais, o do piloto, para um integrante da igreja.

Vampira, na época estava em decadência, acabara de ser demitida do programa de TV que apresentava e assim como o personagem de Bela Lugosi (ou seu sósia), acabou apenas andando de um lado para outro no diminuto cenário sem falar nada e sempre com a mesma expressão. Na época, Lugosi, depois de estar falido e drogado, acabara de morrer. As cenas em que aparece seriam do filme "Tomb of the Vampire", quando Lugosi morreu no início das filmagens, mas acabaram sendo aproveitadas em Plan 9 From Outer Space. Por isso a necessidade do sósia atuar cobrindo o rosto, mesmo assim nota-se que é um homem mais jovem, magro e alto que o original.

De fato o filme é muito ruim e mal feito, com microfones aparecendo, atuações horríveis, gritos descontrolados, efeitos e cenários (principalmente o cemitério e a cabine do avião) nada convincentes, atores lendo o texto, as citadas mudanças repentinas de dia/noite, o disco voador tampa de panela (que é na verdade quadrado) que sempre aparece no mesmo fundo, além de uma narração querendo ser poética, muitos diálogos inúteis, cenas repetidas, a utilização de cenas de arquivo, roteiro furado... ufa! Algo interessante é a trilha sonora, que não chega a ser ruim. Tudo isso feito com o orçamento de $ 60.000, que acho até que foi gasto muito para este filme que não tem nenhum cuidado com a qualidade. Mesmo assim é um filme divertido, certamente não é o pior filme de todos os tempos, como foi eleito e coloca juntos em tela zumbis, vampiros, alienígenas e "grandes" estrelas do horror. 

E além disso, não sei se foi a intenção de Wood, mas pode-se ver o filme também como uma critica à contínua busca por aperfeiçoamento tecnológico e bélico, sendo a maior ameaça para o planeta e todas espécies que vivem nele. 

E mesmo que Ed Wood tenha sido um péssimo diretor e sem talento para tal, era apaixonado por cinema e fazia o possível para realizar os seus filmes, sempre com criatividade e improviso para contornar o baixo orçamento, sendo além de diretor, também roteirista e ator.