quarta-feira, 2 de julho de 2014

Pink Flamingos (EUA, 1972)

Filme: Pink Flamingos
Diretor: John Waters
Ano: 1972
País: Estados Unidos
Duração: 93 minutos
Elenco: Divine, David Lochary, Mary Vivian Pearce
IMDb: 6,1


Após ser considerada por um jornal sensacionalista a pessoa mais asquerosa do mundo, Divine é obrigada a se refugiar em um trailer com sua família, agora adotando o nome de Babs Johnson. Ela vive com seu filho delinquente, Crackers; a mãe doente mental, Miss Edie, que fica seminua em um cercadinho de bebê e é maluca por ovos; e a sua colega de viagens, Cotton, que adora espiar as transas de Crackers.


O casal Raymong e Connie Marble invejam Divine e brigam pelo posto de pessoas mais asquerosas do mundo. Para isso eles se esforçam bastante, mantendo mulheres em cativeiro que são fecundadas pelo seu criado, para vender os bebês à casais de lésbicas; tem lojas de pornografia e negócios com traficantes que atuam em escolas. 

Para demonstrar o nível deste pessoal, Divine tem o hábito de comprar carne e passear conservando-a entre as pernas. Enquanto isso, Raymond desfila faceiro com uma linguiça amarrada à sua linguiça, assustando as mulheres que vê pelo caminho, isso até não ser surpreendido por um transexual que responde mostrando-lhe o que tem debaixo da saia. 
O casal Marble busca por informações sobre Divine e para isso contratam uma espiã, que consegue um encontro com Crackers. Mas ela não imagina pelo o que a aguarda. Crackers a leva para o galinheiro e lá eles transam com uma galinha esperneando e sendo esmagada entre eles.


Já sabendo o endereço de Divine, mandam um belo presente a ela: uma caixa com merda! Como é aniversário de Divine, temos uma festinha com um show de bizarrices. Divine ganha lindos presentes como um cutelo, uma cabeça de porco e, para animar a festinha, música ao vivo e artistas performáticos, como uma mulher seminua dançando com uma cobra ou um homem que indescritivelmente acompanha a música com seus lábios anais! É ver pra crer! Os Marble ficam escondidos assistindo enfurecidos de inveja e chamam a polícia. A polícia chega, mas isso não é problema para a turma de Divine, que retalha e devora os policiais.


Divine e Crackers vão à casa dos Marble se vingarem. Eles lambem tudo na casa espalhando seus germes. Para aumentar a nojeira, Divine abocanha o bilau do filho. Enquanto isso, os Marble aproveitam para incendiar o trailer, mas, quando voltam para casa, são capturados e passam por um julgamento hilário em frente às câmeras da imprensa.

Naturalmente os Marble são julgados e sentenciados, não restando dúvidas de quem são os mais asquerosos do mundo! Divine não se acomoda com o posto e termina o filme em grande estilo comendo uma deliciosa e ainda quentinha merda de cachorro. E sim, ela comeu merda mesmo!

Fazendo uma boquinha

Pink Flamingos, de John Waters, é um clássico underground que transgride os valores morais do cinema e da sociedade tradicional americana. Uma obra-prima da contracultura, subversão e escatologia que tenta de várias maneiras chocar mas mantendo boas doses de humor negro. Vejamos algumas das coisas que aparecem por aqui: coprofagia, canibalismo, zoofilia, incesto, sequestro, tráfico de bebês, enfim, diversão para toda a família. Ao invés do belo, heroico e correto, temos o sujo, o asqueroso, o degradante e tudo que há de mau gosto. Uma gozação com a decadente comunidade hippie, pouco depois do julgamento de Charles Manson e sua turma, tanto que em certo momento é visto a pichação com os dizeres "Free Tex Watson", este que era um dos integrantes do grupo de Manson responsável pelos assassinatos. O filme ainda pode ser visto como uma sátira àqueles que fazem o que for necessário por fama, sendo produto para a imprensa sensacionalista. 



Sobre a última cena, em que Divine come as fezes do cachorro, Waters admite que foi apenas para chocar, pois, segundo ele, muitas coisas que não são ilegais podem ser chocantes. E isto é mostrado muito bem em Pink Flamingos. Lendo algumas críticas sobre o filme, vi que várias pessoas se ofendem mais com cenas de escatologia como esta, do que propriamente com os assassinatos que são realizados. Certa vez o diretor foi exibir o filme em uma prisão e foi acusado pelos detentos de tarado e pervertido, sendo que ironicamente eles eram estupradores ou assassinos.

Há também aqueles que se inspiram no filme e o diretor responde da seguinte forma:  "Às vezes as pessoas me escrevem e dizem que eu dei a elas coragem para fazer algo que eu provavelmente diria a elas para não fazer. Você tem que lembrar: são fantasias. Eu escrevo roteiros, eu não faço essas coisas.".

Com o pequeno orçamento de $ 10.000, John Waters, com 100 dólares conseguiu comprar o trailer em um ferro-velho e teve que puxar cabos de eletricidade por longas distâncias. Ele alugou ilegalmente o equipamento de filmagem de um canal de TV e ele mesmo filmou, talvez isto justifique a câmera amadora e cheia de zooms que vão e voltam, tecnicamente transgredindo os padrões do cinema de Hollywood.

O filme fez sucesso entre os Midnight Movies, filmes undergrounds da década de 70 que eram exibidos à meia noite (mesmo?), pois não tinham espaço no circuito tradicional. Pink Flamingos chegou a ficar em cartaz por um ano. Outros filmes que se destacaram naquelas exibições foram Eraserhead de David Lynch, El Topo de Alejandro Jodorovski, The Rocky Horror Picture Show de Jim Sharman e A Noite dos Mortos Vivos, de George Romero.
A trilha sonora é um espetáculo à parte, repleta de rockabilly e surf music dos anos 50 e 60 contrastando com as cenas grotescas de Divine e sua turma. Alguns dos nomes que integram a trilha sonora são Link Wray And His Ray Men, The Centurians, Lavern Baker, Little Richard, Bill Haley & His Comets, The Trashmen, entre outros. Esta trilha foi lançada em CD e vale a pena ir atrás dela, certamente algumas músicas terão outro gostinho ao serem ouvidas novamente.

Divine, a Drag Queen mais famosa e diva do cinema underground, fez vários filmes em parceria com John Waters. Sua primeira aparição foi em Roman Candles, de 1966, depois vieram Eat Your Makeup (1968), Mondo Trasho (1969), The Diane Linkletter Story (1970), Multiple Maniacs (1970), Female Trouble (1974), Polyester (1981), e Hairspray, de 1988, um de seus últimos filmes antes de falecer no mesmo ano com apenas 42 anos de idade.
Além de Divine, vários outros atores eram presença constante nos filmes de Waters, como o casal Marble (David Lochary e Mink Stole), Edie (Edith Massey) e Cotton (Mary Vivian Pearce).


John Waters, assim como Ed Wood, é considerado um dos diretores que mais representa o trash. Se formos analisar apenas suas maiores obras, Plan 9 From Outer Space e Pink Flamingos, pode-se notar que Ed Wood tentava e achava estar fazendo uma verdadeira obra de arte, mas que involuntariamente se torna trash por todos os seus defeitos. Já John Waters, sabe de suas limitações e faz propositalmente um filme o mais bizarro possível, sem se levar à sério e como um exercício de mau gosto, segundo o próprio. Isto nos prova como o trash pode ser algo abrangente.


Inspirado nas invenções de William Castle, Waters desenvolveu para os filmes Polyester (1981) e Female Trouble (1974), o odorama, um cartão onde os espectadores podiam interagir com o filme, sentindo os cheiros que os personagens sentiam.

Merecidamente, Pink Flamingos é citado no livro 1001 Filmes para ver antes de morrer, de Steven Jay Schneider.

Enfim, Pink Flamingos definitivamente não é um filme para todos, é preciso ter a mente aberta, não ser facilmente ofendido, não levá-lo tão à sério e talvez ter um pouco de estômago.

E para terminar, uma frase de John Waters:
“Para mim, mau gosto tem tudo a ver com entretenimento. Se alguém vomita assistindo algum dos meus filmes, é como ser ovacionado em pé.“.



4 comentários:

  1. O primeiro filme que vi de JW, confesso que me interessei quando fiquei sabendo daquela cena final... Sabe qual, né ? Sem falar no boquete explicito que a..., ou o Divine faz !!!!

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  2. É, o filme tá cheio dessas cenas que podem chocar os despreparados. Várias até mais fortes que a tão famosa cena final.

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  3. Vi somente algumas resenhas do filme e alguns trechos,mas estou baixando ele legendado e pelo visto é tosqueira pura,mas como gosto,eu particularmente não recomendo a pessoas fracas de estomago...lkkkkkk

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    1. Se gosta das tosqueiras, precisa mesmo ver este filme. E realmente eu não recomendaria pra qualquer um, ehehe.
      Falando em John Waters, logo devem rolar mais postagens sobre os filmes dele.

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