domingo, 5 de julho de 2015

Black Belt Jones (EUA, 1974)

Filme: Black Belt Jones / Jones, o Faixa Preta
Diretor: Robert Clouse
Ano: 1974
País: EUA
Duração: 85 minutos
Elenco: Jim Kelly, Gloria Hendry, Scatman Crothers

Jones, o Faixa Preta (Jim Kelly), é convocado pela polícia para se infiltrar em uma vinícola onde um grupo mafioso mantém fotos secretas. Como não é bobo, ele se nega, já que três agentes haviam sido eliminados na missão. Depois disso, Jones, ao sair da delegacia, se depara com uma gangue aleatória, para apresentar os créditos iniciais, com direito a cenas congeladas, a bela música tema do filme e claro, para mostrar as qualidades de faixa preta de Jones, além do seu black power de respeito, fazendo caras e bocas e dando seus gritinhos característicos, já fazendo valer o filme.


O problema a seguir é que a academia de karatê de Papa (Scatman Crothers), que teve Jones como aluno, está no caminho de uma construção que os mafiosos desejam fazer. O encarregado para tentar adquirir a academia é Pinky, retratado como um negro capitalista que defende os interesses dos brancos poderosos. Tanto que Pinky chega a ser atacado por um grupo de negros que quer que ele pare de vender drogas na comunidade.
Na primeira tentativa, Pinky e seu bando são postos para correr da academia, mas depois Papa acaba sendo morto por não aceitar vender a academia.

Turma da academia 

Pinky e seus capangas

Após a morte de Papa, sua filha Sidney (Gloria Hendry), que vivia longe, volta para o enterro. Depois disso ela vai até o bar de Pinky e apresenta suas habilidades de lutadora enchendo de porrada os capangas.

Jones e Sidney acabam se envolvendo, mas ela está longe ser frágil e deixá-lo resolvendo os problemas sozinho. Em certa cena, Jones é convocado e pede para Sidney cuidar da louça enquanto. Ela dá um jeito na louça, esmigalhando-a com uma arma e parte junto com Jones, mostrando ser uma mulher forte, de atitude e muito boa de briga.


O bando de Pinky sequestra Quincy, um dos jovens integrantes da academia, e em troca exige dinheiro. Para poder pagar Pinky, Jones decide aceitar a missão de entrar na vinícola, mas para isso conta com a ajuda de suas amigas atletas de cama elástica. Engenhosamente como em um desenho animado, para enganar a câmera de segurança, colocam uma cama elástica abaixo da câmera, tiram uma foto naquela altura e a colocam em frente à câmera, podendo assim facilmente entrar e pegar o dinheiro dos mafiosos.
Eles pagam Pinky, mas os mafiosos descobrem que aquele dinheiro é o mesmo que foi roubado deles, o que vai gerar ainda muitas confusões, perseguições, lutas, bolhas de sabão culminando com o lixo indo para o seu devido lugar.

Ação, diversão e bolhas de sabão

Já era tempo de constar um filme Blaxploitation neste blog. Explicando brevemente, o Blaxploitation se baseava em filmes de baixo orçamento centrados na comunidade negra, negando os estereótipos pejorativos à qual os negros eram frequentemente retratados nos filmes, para colocá-los como protagonistas e criar novos estereótipos, mostrando os heróis negros, tanto homens quanto mulheres, como fortes, durões, bons de briga e sedutores. O Blaxploitation não pode ser considerado um gênero em si, já que havia filmes tanto de ação, crime, como de comédia e horror. O Blaxploitation viveu seu auge durante a década de 70 e tinha como um dos destaques a excelente trilha sonora, recheada de soul, jazz e funk.
Os primeiros filmes foram Sweet Sweetback's Baadassss Song e Shaft de 1971, que tiveram um bom retorno fazendo viessem vários outros, como Super Fly (1972), Coffy (1973) e Foxy Brown (1974), estes últimos protagonizados por Pam Grier, uma das musas do blaxploitation. Também foram feitas algumas versões de filmes de horror, como Blacula (1972), Blackenstein (1973), Dr. Black, Mr. Hyde (1976). Vale a pena também conferir o filme Black Dynamite, de 2009, que é uma ótima homenagem aos filmes daquele período.
Black Belt Jones é um filme muito divertido, que une o blaxploitation aos filmes de artes marciais em destaque na época principalmente por Bruce Lee. Tanto que Jim Kelly era campeão de karatê e havia feito Operação Dragão (Enter The Dragon, 1973), um ano antes, contracenando com Bruce Lee e também com Robert Clouse na direção, que também faria o Jogo da Morte (Game of Death, 1978), com Bruce Lee.

Black Belt Jones é citado no documentário 50 Worst Movies Ever Made (2004), como sendo um dos 50 piores filmes já feitos, o que não faz nenhum sentido, já que sabemos que tem filmes muito piores e menos divertidos. Tudo bem que as coreografias das lutas são um tanto mal feitas e existem diversas situações toscas, mas que só aumentam a diversão.

Jim Kelly ainda participou de outros filmes Blaxploitation como Three The Hard Way (1974), Black Samurai (1977) e também fez The Tattoo Connection (1978) produzido em Hong Kong e que também recebeu o nome oportunista de Black Belt Jones 2, mesmo que Jim Kelly seja creditado como Lucas no filme.
Scatman Crothers, que fez o Papa, atuou em dezenas de filmes e séries, incluindo os clássicos Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975) e O Iluminado (The Shining, 1980).
Já Gloria Hendry, fez o blaxploitation Black Caesar (1973) e teve seu maior destaque no filme do 007 Live and Let Die (1973), sendo a primeira bond girl negra.


Quanto à referência musical da vez, cito a banda californiana de power violence Spazz, uma das minhas favoritas por sinal, cujos integrantes eram fanáticos por filmes B e exploitations e era comum ver homenagens nas artes de seus álbuns ou vinhetas de trechos de filmes em suas músicas. Um exemplo é a música All Urban Outfield, que tem como introdução um trecho da música de abertura de Black Belt Jones. 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Kung Fury (Suécia, 2015)

Filme: Kung Fury
Diretor: David Sandberg
Ano: 2015
País: Suécia
Duração: 30 minutos
Elenco: David Sandberg, Jorma Taccone, Steven Chew

Miami, 1985. Uma época violenta e cheia de neon. Época de Kung Fury, um policial que, após seu parceiro ser cortado ao meio por um ninja, é simultaneamente atingido por um raio e picado por uma cobra, ganhando habilidades elevadas de kung fu, tornando-o o melhor policial do mundo.

Kung Fury é chamado para combater uma máquina de fliperama que ganha vida e está causando o caos na cidade. Ele chega voando em cima de sua Lamborghini, atirando e depois espancando com os próprios punhos a máquina e destruindo a cidade.



Após este bem-sucedido feito, o chefe de Kung Fury o designa um parceiro, o Triceracop (um policial triceraptor), mas, como só trabalha sozinho, ele se demite. Antes de deixar o escritório, uma ligação de Hitler, que viajou no tempo para o futuro, atirando no telefone, faz com que vários na delegacia sejam mortos pelas balas transmitidas pelas linhas telefônicas.





Com isso, Kung Fury se alia a Hackerman, o melhor hacker do mundo que convenientemente está na delegacia, para voltar no tempo e matar Hitler, o Kung Führer, antigo mestro do kung fu e maior bandido de todos os tempos, durante a época da Alemanha Nazista. Hackerman, com sua luva Nintendo Power Glove (que deve ter sido trazida do futuro, já que só foi comercializada à partir de 1989) e computadores de última geração consegue hackear o tempo e manda Kung Fury, surfando em um Commodore 64, para o passado. Porém, algo dá errado e Kung Fury vai parar na Era Viking, ou seja, o tempo de velociraptors que disparam raios laser, os laser-raptors, uma mulher montada em um lobo gigante com uma metralhadora giratória e outra que cavalga em um Tiranossauro Rex. Mas é com a ajuda do gigante Thor, de peitorais bem definidos e seu martelo do tempo, que Kung Fury finalmente consegue viajar para a Alemanha Nazista, mas não sem antes deixar um "pequeno" telefone portátil para as vikings manterem contato.




Lá ele mostra seu vasto repertório de golpes fatais fazendo fila em centenas de soldados nazistas até que é atingido pela metralhadora de Hitler. Neste momento chega a ajuda de Kung Fury, com a chegada de Hackerman, as vikings armadas, o gigante Thor e o bom parceiro Triceracop. Kung Fury vai para o céu, quando o filme torna-se uma animação, mas Hackerman hackeia as balas e o traz de volta para o confronto final contra Hitler e sua águia dourada mecânica.



O filme termina em grande estilo com um clipe musical com a participação de David Hasselhoff, um dos ícones da década de oitenta, protagonista do Super Máquina.




Kung Fury é uma grande homenagem aos exagerados e trashs anos 80, tanto aos filmes de ação e ficção científica não muito científica, quanto aos jogos de videogame e desenhos do período, mas de forma ainda mais exagerada que os próprios anos 80. O visual do filme lembra uma fita VHS com direito às falhas de tracking, que pulam de uma cena para outra, assim como as músicas características da época, cheias de sintetizadores, vozes forçadas e frases de efeito.  

O curta faz homenagem a diversos filmes e tem uma coletânea de elementos interessantes, como a viagem no tempo, vikings, dinossauros com raios laser, máquinas de fliperamas que ganham vida, super poderes do kung fu, nazistas, policiais brucutus invencíveis, etc. Tudo isto com um alto grau de trashismo, cenas completamente absurdas e hilárias e um roteiro sem qualquer sentido. Logo no início já sabemos do que se trata quando um grupo é abordado por um policial, e um deles usa o skate como alavanca para fazer a viatura voar e ser destruída a tiros pela gangue.

Kung Fury usa e abusa dos efeitos de computação gráfica para as cenas mais insanas e mesmo que eu não seja um grande apreciador desta técnica, devo dizer que o resultado ficou bastante bom para a proposta do filme.

O filme foi o primeiro filme dirigido pelo sueco David Sandberg, que também atua como o próprio protagonista. O projeto surgiu em 2003 quando foi liberado um trailer do possível filme, que para ser realizado foi colocado no site de financiamento coletivo Kickstarter, sendo apoiado por 17.000 fãs e arrecadando mais de $ 600.000.  O filme foi concluído em 2015, foi exibido em Cannes e liberado gratuitamente na internet. Existe a ideia de transformar o curta em um longa metragem, o que torço para que aconteça e acho que se depender de financiamento coletivo certamente poderá ser realizado, visto a grande quantidade de admiradores que o filme conseguiu.

O universo Kung Fury vai além do filme e do video clipe, ele também tornou-se um jogo, no melhor estilo dos antigos beat'em ups.



(Nenhum dinossauro foi extinto para a realização deste filme.)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Le notti del terrore (Itália, 1981)

Filme: Le notti del terrore / Burial Ground / Noites de Terror
Diretor: Andrea Bianchi
Ano: 1981
País: Itália
Duração: 85 minutos
Elenco: Karin Well, Gianluigi Chirizzi, Simone Mattioli

Em uma tumba, um arqueólogo descobre o segredo sobre a vida além da morte e o prova da pior forma ao ser atacado por mortos em decomposição que voltam à vida.
Depois disso, três casais vão à uma mansão e aguardam pelo cientista que não aparece. Um dos casais leva o filho Michael, uma versão reduzida de Dario Argento (que na época já tinha 26 anos e interpreta uma criança), sempre com um olhar assustador. Michael, como é apaixonado pela mãe, vive interrompendo as transas e beijos de seus pais.

No dia seguinte, os casais vão dar um passeio pelo quintal da casa e eventualmente um deles aproveita o belo gramado para iniciar uma rápida diversão à dois. Assim como os pais de Michael, eles também são interrompidos, mas desta vez não é pelo pequeno e sim por zumbis decompostos e cheios de larvas que estavam convenientemente enterrados no quintal da casa e que começam a sair da terra.



A seguir, os zumbis iniciam o seu ataque pelo pai de Michael (para a alegria dele), e o devoram rasgando sua pele com as frias mãos e extraindo seus órgãos.
Mais zumbis aparecem, e uma das mulheres pisa em uma armadilha de urso e fica presa. Os lentos zumbis vão sendo atingidos com grandes pedras que esmagam seus crânios ou são queimados vivos, digo, mortos. 


As pessoas correm para a casa e se trancam nela. Mas a casa está escura, pois quando os mortos sairam de suas tumbas, isto de alguma forma causou interferências na rede elétrica fazendo explodir as lâmpadas da casa (deve ter sido uma desculpa pra ter um ambiente escuro, ou para economizar em iluminação). 
Mas o pessoal não conta com as habilidades dos zumbis com ferramentas, pois quando a empregada vai fechar uma janela, um zumbi de boa pontaria joga um prego que prende a mão da mulher, facilitando o trabalho dos demais que arrancam sua cabeça com um gadanho!


A horda de zumbis rurais organiza uma revolução armados de picaretas, enxadas, gadanhos e machados e com estas ferramentas tentam passar pela porta. Além disto, os zumbis também podem escalar pelas paredes e conseguem entrar na casa.
Em uma "homenagem" ou simples plágio à Lucio Fulci, um dos zumbis quebra uma janela, segura uma mulher pelos cabelos e a puxa, com seu olho de encontro com a ponta afiada do vidro quebrado, mas considerando o orçamento zero, o resultado não é tão bom quanto o filme do mestre do gore.
Michael, o pequeno tarado, agora sem o pai se aproveita da mãe mas é repreendido e foge tristonho. Lembram da garota do olho perfurado do parágrafo anterior? Pois é, parece que a ferida no olho a transformou em zumbi e ela aproveita para fazer uma boquinha com o braço de Michael.
Os mortos finalmente conseguem invadir a casa e os vivos se vêem acuados. Michael volta para comer sua mãe, mas não como queria enquanto vivo, agora como zumbi ele a devora o seu seio arrancando um pedaço.
Sem saída, os sobreviventes são encurralados e assim termina o filme com a mensagem pessimista de que não há saída. Ou será que apenas não souberam pensar em um final?


Le notti del terrore ou Burial Ground, como é mais conhecido, foi fruto de um ciclo de filmes italianos de zumbis que vieram após o sucesso de Zombie, de Lucio Fulci. Se o próprio Zombie, que também é conhecido por Zombie 2, para aproveitar a fama de Despertar dos Mortos (lançado na Itália como Zombie) já mostrava a picaretagem italiana, então imagine os outros títulos que vieram em seguida. Burial Ground não é diferente, com cenas copiadas do filme de Fulci, como quando os zumbis cheios de vermes saem da terra, ou quando a mulher tem o olho perfurado. O filme é repleto de situações que involuntariamente acabam sendo hilárias, atuações ridículas e um roteiro quase inexistente. Ainda assim, seus zumbis são inovadores ao se organizarem em grupo em busca de seu objetivo (se alimentar dos vivos) e habilidosos para usar ferramentas e escalar paredes.
É um filme capaz de gerar ódio aos apreciadores da crítica social de Romero e ainda mais dos que gostam dos zumbis modernos. Mas há algo de inexplicável nele que o torna fascinante, talvez apenas os que admiram o mais sincero mau gosto cinematográfico percebam isto e se divirtam com este belo filme horrível. 


O roteirista Piero Regnoli está creditado em mais de 110 filmes, entre eles Os Vampiros (I Vampiri, 1957), de Mario Bava, Nightmare City (Incubo Sulla Città Contaminata, 1980), de Umberto Lenzi, Patrick viva ancora (1980), a sequência não autorizada do filme australiano Patrick e Demonia (1990) de Lucio Fulci.
Já o diretor Andrea Bianchi também dirigiu Strip Nude For Your Killer (Nude per l'assassino, 1975), entre outros filmes. 

domingo, 15 de fevereiro de 2015

The Fly (EUA, Reino Unido, Canadá, 1986)

Filme: The Fly / A Mosca
Diretor: David Cronenberg
Ano: 1986
País: Itália
Duração: 96 minutos
Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis, John Getz


Seth Brundle (Jeff Goldblum) é um cientista solitário que está há anos trabalhando em uma máquina de tele transporte. Após quase concluído o seu projeto, ele vai socializar um pouco em uma convenção com inúmeros cientistas. Lá ele conhece Verônica (Geena Davis), uma repórter de uma revista de ciência atrás de alguma inovação revolucionária, coisa que todos do local prometem, mas Brundle consegue convencê-la a conhecer sua casa dizendo que os outros estão mentindo, ele não.

No caminho ele se mostra enjoado com o passeio, e explica que isto o motivou a criar uma outra forma de transporte. Chegando à sua residência, que mais parece um galpão abandonado, Brundle apresenta a sua criação, que se trata de duas cabines com formato de um casulo cibernético, chamadas de telepods e um computador que interpreta e executa o tele transporte desintegrando a carga genética de um objeto no primeiro telepod e o reintegrando no segundo. Ele faz uma demonstração com uma meia de Verônica, deixando-a impressionada e achando ter encontrado um grande furo de reportagem.


Mas ainda havia um problema: era preciso testar a máquina com algo orgânico. Assim, no teste seguinte, Brundle submete um babuíno ao tele transporte, mas com um resultado catastrófico, transformando-o em um amontoado agonizante de carne e ossos. Pouco tempo depois, Brundle tem a ideia de testar o tele transporte com um bife (podia ter feito isso antes de despedaçar o pobre animal) no mesmo lugar que acabara de explodir o animal e dar para Verônica experimentar a carne, que segundo ela, ficou com um gosto sintético. 


Isso faz Brundle ter uma ideia de como resolver o problema e faz rapidamente as correções no software. Confiante na sua capacidade de programador, ele testa novamente em um babuíno, mas desta vez a máquina parece funcionar e o mesmo aparece no outro telepod, alguns metros distante.

Brundle decide comemorar a conquista com Verônica, com quem já estava tendo um relacionamento, mas no meio da noite ela decide sair e resolver uns assuntos com seu ex-namorado, o sacana Stathis Borans, que é o seu editor-chefe.

Desanimado e bêbado, o enciumado Brundle continua fazendo mal aos animais, desta vez resmungando sobre o seu relacionamento com o babuíno quando, em um acesso de loucura, Brundle decide testar em si mesmo o tele transporte. Ele entra no primeiro telepod, mas não percebe que com ele também entra uma mosca. O processo de tele transporte é ativado e ele sai aparentemente normal no outro telepod.


Pequenas mudanças passam a ocorrer com ele, como a rápida cicatrização, o crescimento de pelos por seu corpo e o gosto por coisas cada vez mais doces. Ele ganha um incrível e incansável apetite sexual, sentindo-se muito mais forte e disposto. Isso o faz usar o tele transporte de forma compulsiva, tornando-se frenético e viciado neste processo. Em seguida sua pele começa a ficar gosmenta enquanto mais pelos começam a aparecer e vai tomando características monstruosas. No início isto o deixa desesperado, mas depois, acaba aceitando com certo humor, aproveitando suas qualidades, como poder andar pelas paredes e pelo e teto e até mesmo ironizar sua situação em que começa a perder unhas, dentes e partes do corpo, os quais vão guardando no que chama como o Museu de História Natural do Brandlemosca. Ele até mesmo pede para Verônica gravar um vídeo em que ele mostra às crianças como é a sua nova forma de ingerir alimentos: vomitando sobre a comida para decompô-la e então poder sugá-la.


Brundle descobre através do computador que, além dele, havia uma mosca na cabine durante o tele transporte, e que o computador, por não saber interpretar a situação, acabou combinando o DNA dos dois, fundindo-os no mesmo ser.

Mesmo quando Brundle ainda não era o Brundlemosca, ele já podia ser visto como estranho, já que vivia distante da sociedade. Conforme vai se transformando em mosca, vê que sua humanidade está dando lugar a instintos mais primitivos e agressivos, que pode muito bem ser uma metáfora aos seus já existentes instintos, agora potencializados pela fusão. Por isso, pede que Verônica se afaste, com medo de fazer mal à ela. 


Verônica descobre que está grávida e desesperada pede ajuda à Sthatis, que tanto desprezava. Ela sonha e se vê dando à luz a uma gigante e nojenta larva (cujo médico é o próprio Cronenberg) e quer abortar a todo custo, independente de saber se o feto está normal ou não. Brundlemosca, em uma cena que lembra muito os antigos filmes de monstros, atravessa a janela de clínica onde Verônica iria ser abortada e sai com ela em seus braços, pedindo que não mate seu filho, pois é o que ainda lhe resta de humanidade.
Por fim, de volta à sua casa, Brundle vê como solução para impedir que o seu lado mosca o domine, passar repetidas vezes pelo tele transporte com outro humano, para assim, superar o lado mosca. Sua intenção é fundir-se com Verônica e o bebê em ser só, mas o processo é interrompido por Sthatis que atira no cabo que liga as cabines. Ainda assim, Seth passa sozinho pelo tele transporte, que o torna em um repugnante ser em decomposição que, finalmente é eliminado tendo a cabeça explodida por um tiro, nos restando a dúvida de quem realmente é o vilão da história.


Na última vez que revi o filme, como tinha lido A Metamorfose, de Kafka, há pouco tempo, foi inevitável fazer uma comparação entre as duas obras. Enquanto de um lado Gregor Samsa vai se transformando em uma barata e sendo abandonado pela família, por não poder mais sustentá-la, por outro, Brundle ao tornar-se Brundlemosca, passa a ser repudiado pela repórter que parecia mais interessada nele como notícia. As características da obra de Kafka são somadas às do cinema de Cronenberg, dando ênfase ao lado da carne, sexo, o impacto da medicina e tecnologia, as relações humanas. Tudo isto sustentado por efeitos escatológicos e repulsivos, que funcionam bem e impressionam até hoje, tanto que lhe rendeu o Oscar de melhores efeitos especiais e maquiagem.


Ao contrário de muitos filmes de monstros e nojeiras dos anos 80, A Mosca está longe de ser um filme raso. Em certo momento Seth toca em assuntos filosóficos complexos, como quando diz:
“Você tem medo de ser destruída e recriada, não tem?" 
"Mas você só conhece sociedades que veem a carne de modo tradicional. Você não consegue penetrar além do medo terrível e doentio da carne.” 
"Não se trata de penetração sexual, mas sim da penetração além do véu da carne."

A Mosca é um remake do filme A Mosca da Cabeça Branca (The Fly, dirigido por Kurt Neumann em 1958, baseado em um conto de George Langelaan) em que Vincent Price é o cientista e que após o tele transporte, ganha características da mosca enquanto a mosca fica com as suas. O filme ainda teve a continuação O Monstro de Mil Olhos (Return of The Fly, 1959), também com Vincent Price. Já A Mosca de Cronenberg, tem poucas características em comum com o filme original, partindo para uma proposta mais existencialista e ambientado nos anos 80, contemplando diversas inovações científicas e tecnológicas desde o primeiro filme. Quando lançado, o filme fez bastante sucesso tanto de público como crítica e é um dos raros casos em que o remake é superior ao original, ao meu ver. A Mosca teve uma sequencia em 1989, mas sem a direção de Cronenberg e sem o mesmo sucesso. Ambos filmes foram produzidos pela Brooks Films, de Mel Brooks.

Um grande filme de ficção científica e horror que deve ser visto e revisto por todos.

Hotel Inferno (Itália, 2013)

Filme: Hotel Inferno
Diretor: Giulio De Santi
Ano: 2013
País: Itália
Duração: 80 minutos
Elenco:  Rayner Bourton, Jessica Carroll, Michael Howe 

Um assassino de aluguel chamado Frank Zimosa é contratado por Jorge Mistrandia, um misterioso milionário que lhe dá a missão de eliminar um casal de assassinos brutais que está hospedado em um hotel. Frank ganha um óculos que filma os seus passos, podendo se comunicar com Mistrandia, receber fotos e vídeos e deve usá-lo durante as execuções.

Frank não apenas precisa matá-los, mas fazer uma espécie de ritual com alguns instrumentos antiquados esmagando seus crânios e extraindo seus cérebros. Mesmo contrariado, Frank realiza o primeiro assassinato brutalmente extraindo o cérebro. Neste momento ele descobre que a vítima também usava um óculos igual ao seu, o que deixa Frank emputecido mas mesmo assim vai ao encontro do outro assassino, que estava no banheiro. Este é um ser deformado que alerta Frank que ele se tornará igual a eles. Frank, após explodir sua cabeça com um tiro, destrói os óculos e desiste da operação, mas Mistrandia ainda pode se comunicar com ele por auto-falantes espalhados pelo hotel e adverte que o local está repleto de seus homens.



Rapidamente começam a caçá-lo pelo hotel e os capangas vão sendo mortos cruelmente por Frank, principalmente tendo os crânios esmagados, decapitados ou explodidos. Frank encontra quartos secretos, inclusive um que aparenta ser uma caverna, com chão de terra e totalmente escuro, onde vivem os homens de Mistrandia. Lá encontra com um dos capangas que aparece com uma motosserra, mas o idiota acaba se decepando com a própria arma.

Pouco vai acontecendo, apenas novas formas de matar vão sendo praticadas por Frank até que ele é capturado e têm a mão esmagada por um capanga de Mistrandia, enquanto este revela à Frank que existem seres de outras dimensões que para ficarem no seu mundo, precisam de muita violência neste mundo, caso contrário, alguns deles podem passar a barreira e entrar em nossa dimensão. Ele conta que desde a idade média, sua família é responsável pela peste negra, para gerar muita dor e violência e manter as coisas equilibradas. Agora, Mistrandia possui alguns destes monstros, mas eles exigem que se faça muita dor para viverem em harmônia.


Mas não sei do que estes seres teriam a reclamar de Frank, já que ele, na tentativa de fugir, acaba mantando muitas pessoas de forma extremamente violenta, apenas sem fazer o tal ritual, que deveria ser enviado digitalmente aos monstros através dos óculos. Olha só que modernos estes monstros ancestrais! E bastariam ver as constantes atrocidades causadas pelos humanos para estarem mais do que satisfeitos...

De qualquer forma, o desequilíbrio já está feito e uma das criaturas aparece no hotel em uma nuvem negra e cuspindo fogo, matando os que aparecem à sua frente. O nosso "herói" consegue matar a criatura atirando em sua cabeça cadavérica e a esmigalhando com os pés, mas este mal não é assim tão fácil de ser eliminado e mais uma vez Frank é capturado. Desta vez ele torna-se a vítima e precisará ser sacrificado para alimentar a sede de dor e agonia das criaturas infernais.


Dirigido por Guilio De Santi, da produtora Necrostorm, Hotel Inferno se assemelha com os seus filmes anteriores no que se refere aos altos níveis de violência e por não ter a divisão entre bem e mal nos seus personagens. Desta vez, o filme tem o objetivo de lembrar um jogo de tiro em primeira pessoa, no estilo de Doom, Quake, Duke Nukem, entre tantos outros. O personagem principal não aparece, apenas vemos sua visão e vamos acompanhando suas ações. Assim como nos jogos, ele possui uma missão, tem que enfrentar inimigos de diferentes dificuldades, vai sofrendo danos e pode se recuperar com kit de primeiros socorros, vai encontrando itens, armas e áreas secretas, precisa criar estratégias para sair de salas, além de possuir um chefe final. Até sua voz forçada lembra a dos jogos como Duke Nukem.

A ideia de filmagem em primeira pessoa até é interessante, mas o roteiro é bem fraquinho e o filme acaba ficando um pouco repetitivo, apenas com Frank fugindo e matando quem aparecer pela frente. De qualquer forma, vale pela carnificina exagerada e nada mais. Portanto, não muito recomendável aos que procuram algo além disso. 

Para complementar, foi incluído um ser inominável de outra dimensão que parece ter vindo de um conto de H.P. Lovecraft, mas que diferente das criaturas do autor, o monstro do filme acaba aparecendo demais e de forma toscamente computadorizada. Talvez ficasse melhor não mostrar tanto, mas enfim.
Segundo o site da Necrostorm, já está prevista uma continuação para 2015.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Taeter City (Itália, 2012)

Filme: Taeter City
Diretor: Giulio De Santi
Ano: 2012
País: Itália
Duração: 72 minutos
Elenco: Monica Muñoz, Riccardo Valentini, Santiago Ortaez

Taeter City é uma cidade dominada pelas autoridades e corporações. Até aí nada de novo. Para evitar o crime, é desenvolvido o sistema Zeed, que se trata de antenas que geram ondas que podem ser captadas apenas pelos criminosos, já que estes possuem uma alteração cerebral, e isto os leva a cometer suicídio. Em seguida, alguns agentes são enviados para, de uma forma muito humana, acabar com o sofrimento deles, com um tiro na cabeça. Estes também possuem uma luva com lâminas invisíveis, capazes de facilmente cortar corpos ao meio.

Este sistema é operado pela rede de fast food Taeter Burger, que aproveita os restos dos corpos dos delinquentes para seus deliciosos lanches, incluindo coisas como o suco de sangue, bundas torradas com morcilha e olhos de petisco. A Taeter Burger, por sua vez, é controlada pelo governo, desta forma a população pode ficar tranquila e bem alimentada.
Mas um dos criminosos em potencial sofre mutações em decorrência das ondas de rádio e além de ser imune a elas, torna-se capaz de, com seu grito, produzir ondas alteradas que causam mutações àqueles que às escutam, tornando-os psicopatas assassinos.



Basicamente esta é a história do filme. O que acontece à seguir são os agentes caçando o assassino mutante, mas antes terão que eliminar aqueles que se transformaram com o berro do maluco. Baldes de sangue são jorrados enquanto pessoas são rasgadas, mutiladas, seus crânios são esmagados, entre uma infinidade de formas de brutalidade.
Assim como Adam Chaplin, também da produtora Necrostorm, Taeter City contém um gore agressivo, com uma violência gráfica exagerada, mas, neste caso, com menos efeitos de computação gráfica, e mais práticos, com ótimos resultados, o que me fez gostar mais deste em relação ao primeiro filme, também por ter mais humor negro. 




A história até tem uma premissa interessante, mesmo em alguns momentos se tornando cansativa, mas vejo o gore como o principal atrativo do filme, assim como todos os filmes da Necrostorm, onde a história fica em segundo plano. Outra coisa bacana, são os cômicos comerciais da Taeter Burger, cujo anunciante é até mais marcante que os próprios protagonistas. Estes comerciais lembram filmes como Robocop e Tropas Estelares, de Paul Verhoeven e Tokyo Gore Police, de Yoshihiro Nishimura, entre vários outros, que também utilizam este recurso para retratar mundos violentos e dominados pelas corporações com métodos desumanos. A filmagem parece meio amadora e tem uns filtros de imagem diferentes, mas o maior ponto fraco do filme são as péssimas atuações, ruins até para um filme trash. A agente Navalha, por exemplo, que seria uma das protagonistas, não tem expressão alguma. 




Taeter City, embora menos exagerado, parece se passar em um universo semelhante ao de Adam Chaplin. Um futuro pós-apocalíptico em que a maioria das pessoas é deformada e usa máscaras, e todas são cruéis, sejam elas autoridades ou criminosas.
O diretor ainda fez o filme Hotel Inferno, utilizando o mesmo padrão de violência exagerada, mas mostrando a visão de um assassino, simulando um jogo de primeira pessoa. Entre os projetos previstos para 2015 está um chamado Taeter Scumsquad, que me parece uma continuação ou algo relacionado ao Taeter City.

Banana Motherfucker (Portugal, 2011)

Filme: Banana Motherfucker
Diretor: Fernando Alle, Pedro Florêncio
Ano: 2011
País: Portugal
Duração: 16 minutos
Elenco:  Fernando Alle, Ana Lúcia Chita, Pedro Florêncio

Depois de um longo período de férias bloguísticas, o Trashinema está de volta matando sua fome pelo mal feito. Peguem o pote de bananas e divirtam-se!

Uma equipe vai a uma ilha peruana, famosa por lendas macabras, filmar o que seria o filme de terror mais realista e apavorante de todos os tempos. 
No decorrer das filmagens, um dos integrantes come uma banana encontrada na ilha e em pouco tempo todos ficam desesperados com o misterioso ataque de bananas assassinas que saltam e voam, atravessando corpos, decepando membros, enfiando-se em lugares impróprios e ainda contando com as trapalhadas dos sujeitos que vão entrando em situações acidentais resultando em outras situações inusitadas e sangrentas.
Um deles, mesmo após ter uma banana cravada em seu olho, consegue fugir, mas não se dá conta que com ele vai uma casca de banana.



Um tempo depois, na cidade, aquela casca de banana contamina outras bananas, que passam a agir de forma inesperada, e começarão um verdadeiro massacre, atacando as pessoas das mais variadas formas, vingando as milhares de gerações anteriores de frutas dizimadas pelos humanos.



Banana Motherfucker retoma os filmes trash, em que seres inanimados ganham vida e tornam-se assassinos. Neste caso, as frutas, como acontece com O Ataque dos Tomates Assassinos, mas também trazendo características de filmes como Cannibal Holocaust e Evil Dead.
Este curta é dirigido pelos portugueses Fernando Alle e Pedro Florêncio, que mantém o grupo Clones - Produções de Merda, que também tem no currículo obras como Papá Wrestling e BLARGHAAARHGARG, todos recebendo prêmios em diversos festivais.